Entrevista

Brasil é desafio e oportunidade: a visão da Geotab para mudar a logística com tecnologia

Sean Killen, VP global da Geotab, revelou ao Estradão como a empresa enxerga o Brasil na transformação da logística com tecnologia

Thiago Vinholes

11 de abr, 2025 · 15 minutos de leitura.

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Sean Killen Vice-presidente Global, Desenvolvimento de Negócios e Vice-presidente para a América Latina
Crédito:Geotab/Divulgação

O Brasil representa um dos mercados mais complexos do mundo em termos de logística — e, ao mesmo tempo, uma das maiores oportunidades. Essa é a visão de Sean Killen, vice-presidente global da Geotab, empresa especializada em telemetria para frotas. Com quase 5 milhões de veículos conectados em sua base mundial, a companhia aposta na combinação de dados, inteligência artificial e sustentabilidade para transformar a gestão de transportes em países com desafios tão diversos quanto os brasileiros.

Em entrevista ao Estradão durante o Geotab Connect 2025, nos Estados Unidos, Killen compartilhou sua leitura sobre o papel da tecnologia no futuro das frotas, comentou os limites e possibilidades dos caminhões elétricos e explicou por que a Geotab vê o Brasil como um território estratégico para avançar em soluções digitais. Para ele, o momento é de agir: empresas que começarem agora vão liderar a próxima fase da logística no País.

Qual é a principal missão da Geotab?

A Geotab é uma empresa interessante. Não somos uma empresa pública. Somos uma empresa privada, familiar. Então, a propriedade pertence à família Cawse, principalmente Neil Cawse (fundador e atual CEO da Geotab) e seus dois irmãos. Eu não diria que o Neil não gosta de lucro, mas esse não é o seu objetivo. O principal objetivo de Neil é tornar o mundo um lugar melhor com a tecnologia. Ele poderia vender a empresa por bilhões de dólares agora e se aposentar, mas não tem interesse nisso. Ele mantém a Geotab porque, em primeiro lugar, ele acredita que salvar vidas é mais importante.

A Geotab monitora quase 5 milhões de veículos. Se desenvolver soluções que realmente aumentem a segurança, poderá contribuir diretamente para salvar vidas. Neil costuma calcular esse impacto no fim de cada ano, usando um algoritmo que estima o número de vidas preservadas com base na frota monitorada pela Geotab. Para Neil, tudo se resume ao valor que pode gerar para a sociedade.

Ele também mantém um foco forte em sustentabilidade. Trabalhou para tornar a Geotab o mais sustentável possível dentro do setor de tecnologia e conduz iniciativas internas com esse objetivo. Além disso, quer ajudar os clientes a reduzir suas emissões e adotar práticas mais responsáveis.


Já conversei com ele muitas vezes. Quando a Geotab for vendida ou abrir capital, e ele enfim decidir se aposentar, será um homem muito rico. Mas não pretende manter essa riqueza, vai doá-la. Ele é uma pessoa generosa e focada. A filosofia da Geotab reflete os valores de Neil e de sua família, que têm um forte envolvimento com causas sociais.

Como as soluções da Geotab ajudam os gestores de frotas?

Vamos usar São Paulo e o Rio de Janeiro como exemplos. São cidades que funcionam como um caos organizado. Eu gosto muito de visitá-las, mas têm uma estrutura espalhada, como se tivessem crescido em muitas direções diferentes. O trânsito não colabora, e nesse cenário as empresas precisam encontrar formas de operar. A Geotab funciona como uma ferramenta para ajudá-las a entender como navegar pelo Brasil.

Então, como posso colocar um produto na prateleira? Como garanto que meus motoristas estão dirigindo com responsabilidade? O que posso fazer para mantê-los em segurança e evitar que se envolvam em acidentes?

São Paulo é uma das cidades mais fascinantes do mundo. Enorme e complexa, com muitos desafios. O Rio também é complicado, mas de uma maneira diferente, especialmente por reunir comunidades muito próximas de áreas valorizadas. Por fim, o que todos precisam lembrar é que, nessas cidades, todas as pessoas têm necessidades básicas, todo mundo precisa comer e beber.

Diferentemente da América do Norte, onde as pessoas costumam ir a grandes supermercados nos subúrbios, no Brasil o comércio de pequeno porte está espalhado por toda parte. É preciso abastecer essas lojas. As pessoas precisam ter acesso à sua Pepsi, à sua Coca-Cola, à sua comida. E os produtos precisam chegar rápido. Não dá para desistir no meio do caminho. Porém, é necessário ser eficiente, economizar combustível e evitar ficar preso no trânsito.


Dessa forma, o que a Geotab busca com seu produto é ajudar as empresas a entenderem o que precisam realizar. A ferramenta oferece diferentes recursos para aumentar a segurança dos motoristas, agilizar a entrega dos produtos, economizar combustível e manter o trabalho o mais organizado possível em cidades como Rio de Janeiro ou São Paulo. Essa é a proposta da Geotab para os gestores de frota.

Como a IA está sendo integrada à telemetria e o que isso significa para o futuro das frotas?

A Inteligência artificial está na moda. Todo mundo fala sobre isso, mas muita gente não entende que o termo pode se referir a várias coisas diferentes. Na verdade, a Geotab já usa IA há bastante tempo, embora antes chamasse isso de “machine learning” (“aprendizado de máquina”), que nada mais é do que uma forma de inteligência artificial.

Um dos nossos produtos é o “Diagnóstico do Motor”. Ele basicamente analisa o que está acontecendo no veículo e avisa quando algo está prestes a falhar ou quando é necessário levá-lo à oficina antes que o conserto fique caro. Isso é inteligência artificial, só não usávamos esse nome.

A inteligência artificial está se tornando cada vez mais sofisticada, e estamos adotando essa tecnologia de um jeito talvez um pouco diferente de outros fornecedores. Muitos a utilizam para escrever relatórios ou gerar gráficos, enquanto nosso foco é ajudar a entender o que está acontecendo com a sua frota antes mesmo que você perceba.

Se você usa a Geotab há dois anos, a inteligência artificial pode analisar os dados e identificar padrões, apontando que algo está diferente naquela semana. Assim, talvez valha a pena investigar. Isso é realmente poderoso, porque cria um sistema de alerta precoce baseado em padrões, e não em falhas. Isso pode ajudar a economizar dinheiro, melhorar a segurança e reduzir as emissões.


A inteligência artificial vai transformar tudo. E já começou. Nos próximos cinco anos, deve se tornar a ferramenta mais poderosa na gestão de frotas.

Como a Geotab enxerga o mercado brasileiro de transporte e logística? Quais são os desafios e oportunidades no Brasil?

Acho que o Brasil é um dos mercados mais fascinantes do mundo. Já estive em quase todos os países e, na minha opinião, o Brasil representa uma das maiores oportunidades existentes. Mas também é um dos mercados mais desafiadores. Isso acontece porque o país é extremamente complexo. Diferentemente do Canadá ou dos Estados Unidos, onde a rede de estradas é mais simples, o Brasil combina montanhas, grandes áreas agrícolas, cidades imensas e regiões muito remotas. E tudo isso precisa estar conectado.

A logística no Brasil é difícil. Esse é o desafio, mas também a grande oportunidade. Se conseguirmos fazer a logística funcionar bem no Brasil, as empresas poderão economizar milhões de reais. Também será possível reduzir emissões, melhorar a qualidade de vida dos motoristas e tornar as estradas mais seguras.

O que enxergo no Brasil é uma enorme oportunidade de digitalizar a logística. De tornar o transporte mais eficiente, seguro e sustentável. Além disso, o Brasil está pronto para isso. A tecnologia já existe. O desafio está em adotá-la de um jeito que faça sentido para o mercado brasileiro.

O que os caminhões elétricos têm a oferecer no transporte pesado? E como a telemetria ajuda nisso?

A resposta depende do tipo de operação. Caminhões elétricos funcionam muito bem em certas aplicações, como entregas urbanas, rotas curtas em que é possível recarregar à noite e situações em que o peso adicional da bateria não compromete a operação.


Mas, se a rota vai de São Paulo até Fortaleza com uma carga pesada, a situação é mais complicada. As baterias ainda não oferecem autonomia suficiente e a infraestrutura de recarga está em desenvolvimento. Por isso, ainda não é viável substituir todos os caminhões a diesel por elétricos. No entanto, esse cenário está evoluindo.

É justamente aí que a telemetria faz diferença. Com o Geotab, é possível analisar a frota e identificar quais veículos estão prontos para eletrificação. Dá para dizer, por exemplo: “Esse caminhão roda apenas 100 km por dia e sempre retorna à base. Então, podemos substituir por um elétrico.” Isso elimina suposições, porque a decisão se baseia em dados reais.

A telemetria também permite acompanhar o desempenho do caminhão elétrico, verificar o estado da bateria e avaliar se o veículo está sendo usado da forma mais eficiente possível. E isso é fundamental. Caminhões elétricos são investimentos altos. Entretanto, se forem mal utilizados, geram prejuízo. Mas, se operarem de forma estratégica, podem gerar uma economia significativa e ainda contribuir com o meio ambiente.

Qual é a mensagem da Geotab para os gestores de frota no Brasil?

A principal mensagem é: não tenham medo da tecnologia. Às vezes ela parece complexa ou cara, mas está aqui para ajudar. E ninguém precisa fazer tudo de uma vez. Dá para começar aos poucos, testar e aprender no processo.

O mais importante é dar o primeiro passo. Quem começar agora vai sair na frente nos próximos anos, com uma frota mais eficiente, mais segura e mais sustentável. Isso não traz benefícios apenas para os negócios, mas também para o País.


Então, minha sugestão é: comecem. Façam testes. Perguntem. E contem com a gente para ajudar nesse caminho.

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