A descarbonização dos transportes ganhou protagonismo no seminário “Brasil em Movimento: Segurança Energética e Alimentar — As rotas para o sucesso dos biocombustíveis e da bioeletrificação”, evento realizado neste mês em São Paulo. Promovido pelo Acordo de Cooperação Mobilidade de Baixo Carbono para o Brasil (MBCBrasil), o evento reuniu representantes do Governo, bem como setor privado, acadêmico e especialistas.
Dessa forma, o encontro marcou a apresentação do estudo “Biocombustíveis como solução imediata e eficaz para a descarbonização do transporte”. Estudo conduzido pela Professora Doutora Glaucia Souza, da USP e coordenadora do Programa BIOEN da FAPESP.
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Brasil não precisa esperar: biocombustíveis já são solução imediata
Assim, o estudo apresentou uma mensagem direta. Ou seja, o Brasil já possui as ferramentas para reduzir suas emissões no transporte sem depender de inovações futuras.
Segundo o levantamento, elaborado com apoio da Be8, a bioenergia representa atualmente 50% dos recursos renováveis globais. Além disso, o setor de biocombustíveis precisa expandir 2,5 vezes até 2030. O que permitiria cortar quase 800 milhões de toneladas de CO₂ fóssil. Em outras palavras, volume equivalente a 10% das emissões globais atuais do transporte.
Durante a abertura do seminário, o coordenador do conselho de administração do MBCBrasil, José Eduardo Luzzi, reforçou a relevância do tema. “Este seminário marca o debate sobre mobilidade sustentável no País. Temos tecnologia, capacidade produtiva e histórico de sucesso no uso de biocombustíveis. Assim, transformar esse potencial em ação é questão de estratégia e compromisso”, explica.
Por sua vez, Glaucia Souza destacou que os biocombustíveis já integram a realidade brasileira e não apenas figuram como alternativa. “Eles reduzem emissões de CO₂, podem se integrar a tecnologias existentes e geram impacto direto na mitigação das mudanças climáticas e no desenvolvimento socioeconômico”, disse.
Produção de biocombustíveis não compete com alimentos, aponta estudo
O levantamento também derrubou um dos argumentos mais repetidos contra o uso de biocombustíveis: a suposta competição com a produção de alimentos. Souza ressaltou que essa correlação não se sustenta cientificamente. Nesse sentido, os dados mostram que a agricultura brasileira consegue, simultaneamente, produzir alimentos, biomassa para biocombustíveis, bioeletricidade e outros produtos.
A professora ainda explicou que práticas como o cultivo duplo comprovam a possibilidade de o setor agrícola contribuir para a neutralidade de carbono. Essa estratégia melhora a eficiência no uso da terra e gera benefícios adicionais. Como o aumento da biodiversidade e o sequestro de carbono no solo.
“Desmistificar essa falsa competição é fundamental. Os biocombustíveis, quando produzidos de forma sustentável, potencializam a agricultura e abrem novos mercados”, completa Glaucia.
O estudo também projeta um papel estratégico para os biocombustíveis na construção de uma economia verde nacional. Com a demanda mundial por soluções de baixo carbono em alta, as projeções indicam que, até 2030, o Brasil pode liderar o mercado global de biocombustíveis. Do mesmo modo, gerar milhares de empregos sustentáveis.