O Scania R 410 GNL é o único caminhão à venda no Brasil que roda com gás, mas no estado líquido. A Morada Logística comprou cinco unidades. Os cavalos-mecânicos trucados se juntaram à frota composta por 25 versões movidas a GNV (em estado gasoso). Todos são da Scania.
Aliás, apenas a marca sueca oferece caminhões a gás no Brasil. Porém, em breve a Iveco promete entrar nesse segmento no mercado brasileiro. Segundo a empresa, a produção já começou.
Seja como for, a Morada foi a primeira transportadora a testar os Scania a GNV. Inicialmente, a tecnologia surgiu no País em 2019. Além disso, a empresa foi a primeira a investir no Scania R 410 GNL.
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Transição para o gás
CEO da Morada Logística, André Leopoldo diz que a empresa sempre buscou ser inovadora. Em outras palavras, trata-se de uma prática anterior ao surgimento de ações de ESG. A sigla indica atividades voltadas ao desenvolvimento ambiental, social e de governança corporativa. Mesmo porque, a companhia atua no transporte de produtos perigosos.
Nesse sentido, Leopoldo diz que os Scania R 410 GNL garantem menores emissões de poluentes. E, apesar de os caminhões GNL estarem em atividade há menos de 30 dias, a expectativa é de que a redução seja de 15%. Ou seja, com base nos resultados dos modelos a GNV.
"São caminhões mais caros e, com isso, a operação é também mais cara. Além disso, não há postos de abastecimento de GNL. Temos de montar a estrutura. Porém, é preciso iniciar essa transição e fazer a roda girar", diz o CEO da Morada. Segundo ele, esses caminhões já estão atraindo os embarcadores.
Caminhão a gás atrai embarcadores
"Muitos clientes já estão pedindo simulações de custo da operação com o caminhão a gás", diz Leopoldo. Além dos Scania a gás, a transportadora também tem caminhões elétricos da JAC Motors. Esses modelos operam na região de Campinas (SP), no segmento de carga fracionada.
Já os cinco Scania R 410 6x2 atuam em rota dedicada. Assim, transportam suco de laranja de Matão, no interior paulista, ao porto de Santos, no litoral do Estado. Segundo a empresa, a rota total é de cerca de 800 km. Assim, nas paradas para a troca de motorista é feito o reabastecimento de gás em Limeira (SP).
Dessa forma, a escolha do caminhão a GNL tem a ver com a autonomia. Ou seja, é o dobro da versão a GNV, que gira em torno dos 500 km. Para isso, o Scania R 410 GNL tem dois tanques de 340 litros cada.
Scania R 410 GNL é igual ao a diesel
O Estradão acompanhou uma etapa do trajeto, a partir de Matão. Por causa das regras de higiene e segurança, não foi possível acompanhar o carregamento. Porém, o serviço foi feito em 15 minutos.
Feito isso, viajamos com o instrutor da Morada, Fernando Schneider, a bordo do Scania R 410 GNL. Ele é o responsável pelo treinamento dos 20 motoristas que operam a frota movida a GNL. Assim, ao longo do trajeto Schneider compartilhou dicas de direção.
Basicamente, trata-se de um caminhão igual ao movido a diesel. Ou seja, a cabine e o acabamento são idênticos. O que muda são os dados de consumo instantâneo no computador de bordo. No caminhão a diesel, a medida utilizada é o km/l. O consumo é medido em km/kg no caminhão a gás.
Motor específico para queimar gás
Obviamente, o motor a GNL é diferente do a diesel. Trata-se do Scania OC 13, de 12,7 litros. Ou seja, um seis-cilindros em linha que gera 410 cv de potência a 1.900 rpm e 204 mkgf de torque entre 1.000 rpm e 1.400 rpm. A transmissão é automatizada Opticruise de 14 velocidades.
O OC 13 é de ciclo Otto, igual ao de automóveis. Nesse sentido, tem velas de ignição, por exemplo. Assim, pode utilizar 100% de gás natural, biometano e/ou a mistura dos dois combustíveis. Há ainda versões de 7 litros de 280 cv e 320 cv - este, para ônibus.
O Scania R 410 GNL da Morada tinha 55,5 toneladas de peso bruto total combinado (PBTC). Além disso, 37 t era de carga útil. O suco de laranja é transportado em um semirreboque do tipo vanderleia, de três eixos espaçados.
Mudança de performance
Segundo o instrutor da Morada, a performance do caminhão a gás é diferente da do a diesel. Nesse sentido, as respostas são mais lentas. Portanto, em trechos de aclive é mais adequado deixar a caixa de marchas no modo manual. Isso garante melhor desempenho e velocidade média constante.
"No caminhão a diesel, a resposta da caixa automática é mais rápida. Mas, se o motorista é bem treinado, pode usar o modo manual para reduzir essa diferença, explica o instrutor (foto abaixo).
Em um aclive, com a caixa de câmbio no modo manual, em sexta marcha, andamos a 30 km com o motor girando a 1.100 rpm. Assim, o Scania mostrou força para vencer o trecho. Nesse sentido, o caminhão estava na faixa econômica, que vai de 1.000 a 1.500 rpm.
Portanto, o comportamento não difere muito do modelo com motor a diesel. Do mesmo modo, a faixa de rotação do freio-motor vai de 1.750 a 2.300 rpm.
Scania a gás é equipado com retarder
O Scania a gás da Morada é equipado com retarder. Ou seja, o sistema de freio adicional. Segundo o instrutor da Morada, o equipamento é muito útil na descida da serra pela Rodovia Anchieta.
Porém, Schneider utilizava o recurso mesmo nas descidas leves da BR-340. Com isso, há menor desgaste dos freios de serviço. Bem como das lonas de freio. No mesmo sentido, a segurança é ampliada. Afinal, o poder de frenagem do retarder é de 860 cv.
Nas retas, o Scania R 410 GNL tem performance parecida com a do modelo a diesel. Pedimos ao instrutor que a caixa Opticruise fosse utilizada no modo automático. Deu para perceber que o caminhão a gás é muito mais silencioso que o a diesel.
Caminhão a gás é silencioso
Na aferição por decibelímetro, o Scania GNL rodando a 75 km/h, em 11ª marcha e com o motor girando a 1.200 rpm cravou 61 decibéis. Com o câmbio na posição “neutro”, o equipamento registrou 53 decibéis.
Dessa forma, o caminhão a GNL atende as metas de ruído estabelecidas no Proconve P8. A regra é equivalente a Euro 6 e passa a valer para caminhões a diesel a partir de janeiro de 2023.
Após rodar cerca de cerca de 200 km, paramos em Limeira para reabastecer e trocar de motorista. De lá, o Scania R 410 GNL seguiria para Santos. Porém, por questão de segurança não é permitida a presença nem mesmo do motorista durante o abastecimento.
Apenas o encarregado pelo reabastecimento pode ficar no local. Ele é treinado pela New Fort Energy (NFE), empresa responsável pelo fornecimento da infraestrutura de abastecimento.
Gás gelado
Seja como for, o tanque de GNL é idêntico ao de diesel. Porém, a mangueira que transfere o gás para o tanque no estado líquido é extremamente gelada. Uma segunda mangueira tem a função de controlar pressão e temperatura.
Nesse sentido, vale lembrar que esse processo que faz com que o gás passe ao estado líquido. Assim, durante o abastecimento o combustível fica a uma temperatura de -160°C. Todo o processo é feito em menos de 15 minutos. Ou seja, o equivalente ao tempo necessário para encher os tanques de diesel.
Assim, o reabastecimento do caminhão a GNL é bem mais rápido que o do GNV. Nesse caso, o processo pode levar até 40 minutos para ser feito. Isso ocorre por causa do bico, que tem baixa vazão.
Segundo a Scania, um sistema mais rápido está a caminho. O dispositivo está sendo desenvolvido em conjunto com empresas que atuam com esse tipo de modelo.
Veredicto
O Scania R 410 GNL não difere muito do caminhão diesel. E, apesar de o custo do veículo ser até 30% maior que o de um modelo a diesel, trata-se de uma solução viável. Sobretudo para embarcadores que precisam reduzir suas emissões de poluentes.
Contudo, no caso do GNL a infraestrutura de reabastecimento é restrita. Porém, a tendência é de que esse mercado cresça no Brasil. Até porque a eletrificação no transporte de longa distância deve demorar a ocorrer. Assim, o caminhão a gás é uma importante opção para a transição e reduzir as emissões.