O número de acidentes envolvendo cargas químicas e perigosas nas rodovias paulistas vem crescendo de forma alarmante. Em 2024, a Associação Brasileira de Transporte e Logística de Produtos Perigosos (ABTLP) registrou 1.033 ocorrências — mais do que a soma dos dois anos anteriores. Do total, 141 envolveram vazamento de combustíveis como diesel e etanol, com 108 casos de impacto ambiental confirmado. Ao todo, os acidentes deixaram 1.094 vítimas. Esse cenário tem exigido uma mobilização cada vez maior de equipes de resposta emergencial, como a Ambipar, responsável por conter a maior parte dos vazamentos nas estradas brasileiras.
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De acordo com Dennys Spencer, diretor de prevenção e resposta a emergências da Ambipar, a empresa é acionada em cerca de 90% dos acidentes envolvendo produtos químicos nas rodovias brasileiras. “Nosso trabalho é chegar ao local em pouco tempo, identificar o produto derramado e aplicar a contenção adequada para evitar que o problema se espalhe”, afirmou, em entrevista ao Estradão.
Hoje, a Ambipar conta com 300 bases distribuídas pelo país e mais de 800 operadores treinados, além de uma frota de apoio, incluindo carros, caminhões e helicópteros. Dependendo da gravidade da ocorrência, a intervenção pode durar algumas horas ou até dias, abrangendo desde a contenção imediata até a descontaminação completa do local.
Causas e riscos de acidentes com cargas químicas
O especialista da Ambipar afirma que erros humanos como excesso de jornada, fadiga do motorista, bem como distração ao volante causam a maior parte dos acidentes com cargas perigosas. “O principal fator que leva a acidentes ainda é o comportamento do motorista. Mesmo com toda a tecnologia e protocolos de segurança, erros humanos continuam sendo a maior ameaça ao transporte de cargas perigosas”, contou Spencer.
Entre os produtos que oferecem maior risco à população e ao meio ambiente estão gases tóxicos, como o cloro, e combustíveis como diesel e gasolina, que permanecem no solo e na água por longos períodos e são difíceis de remover em caso de vazamento. Como explica Spencer, “combustíveis líquidos representam grande parte dos danos ambientais nas rodovias, justamente pelo volume transportado e pela complexidade de contenção e limpeza em caso de derramamento”. Em contrapartida, o etanol, por ser orgânico e se diluir mais facilmente na água, costuma gerar impactos menores.
Para cada tipo de substância derramada, a Ambipar segue um protocolo específico de contenção. Ao lidar com gases tóxicos, por exemplo, as equipes usam trajes de proteção completos e cilindros de ar respirável. Produtos líquidos, como diesel e gasolina, são contidos com barreiras e equipamentos de sucção. “Cada cenário tem um plano pré-definido e nossas equipes chegam ao local sabendo exatamente quais medidas adotar”, detalha o executivo. Além disso, a empresa também utiliza drones e sensores para monitorar o ambiente à distância durante a operação.

A Ambipar também utiliza robôs para combater incêndios. Atualmente, a operação conta com dois desses equipamentos, que atuam em situações de risco sem expor os operadores. “O robô pode se aproximar do objeto em chamas e combater o incêndio com precisão”, disse Spencer.
Prevenção e segurança nas rodovias
Para reduzir os riscos com acidentes envolvendo cargas químicas, a Ambipar mantém bases e profissionais posicionadas em pontos críticos nas rodovias. A empresa também promove treinamentos de direção defensiva e procedimentos sobre como agir em situações de risco para motorista. “A prevenção é tão importante quanto a resposta; ela reduz a gravidade dos acidentes”, salientou o especialista.
Para quem presencia um acidente envolvendo produtos químicos nas rodovias, a recomendação de Spencer é clara: mantenha distância e não tente interferir. “Acidentes desse tipo oferecem diversos riscos que as pessoas não podem ver ou sentir de imediato, como vazamentos de gases tóxicos”, explica.

O executivo lembra que todas as carretas que transportam cargas perigosas possuem na traseira uma placa laranja. “Esse painel identifica o produto e o nível de perigo que ele oferece em caso de derramamento”, contou. Além disso, esses dados também podem ser consultados pelo aplicativo Pro Química, disponível para smartphones.
“Nosso serviço é aquele que ninguém quer precisar, mas é bom saber que está lá quando acontece”, diz diretor de prevenção e resposta a emergências da Ambipar. Ele ressalta que acidentes com cargas químicas podem gerar consequências graves em minutos e a presença de equipes preparadas faz a diferença entre um vazamento contido e um desastre ambiental.