Entrevista

Agronegócio puxará transporte no Brasil até 2040, diz o presidente do G10

Segundo o presidente do G10, Cláudio Adamuccio, o setor continuará garantindo alta demanda de transporte pelo menos até 2040

Andrea Ramos

24 de ago, 2021 · 14 minutos de leitura.

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Para o G10, agronegócio deve se desenvolver ainda mais nos próximos 20 anos
Para o G10, agronegócio deve se desenvolver ainda mais nos próximos 20 anos
Crédito:G10/Divulgação
Para o G10, agronegócio deve se desenvolver ainda mais nos próximos 20 anos

O agronegócio continuará fomentando a alta do transporte no Brasil até, pelo menos, 2040. Pelo menos é isso que aponta o G10, grupo composto por grandes empresas de transporte de carga com sede em Maringá, no Paraná. Ou seja: Cordiolli, Rodofaixa, Transfalleiro, Transpanorama e VMH. As demais ajudaram a fundar o grupo. Porém, não fazem mais parte dele.

Além disso, todas têm ativos e, portanto, CNPJ individuais. Da mesma forma, cada uma tem sua própria carteira de clientes e, juntas, atuam em vários segmentos. Porém, no caso do agronegócio, elas operam por meio do G10. Aliás, o setor responde pela maior parte das transações feitas pelo G10.

Nesse sentido, juntas as empresas têm cerca de cinco mil veículos. Esse número inclui caminhões e implementos rodoviários. “Somos capazes de dar suporte à nossas próprias operações. Bem como atender as demandas do G10”, diz o diretor-presidente do G10, Cláudio Adamuccio. Além disso, ele é diretor-administrativo da Transpanorama.


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Mais de 160 pontos de atendimento

Como resultado, o tem uma base de dados com mais de 35 mil caminhoneiros. Segundo o G10, esse número inclui autônomos, pequenas e médias empresas. Portanto, o grupo pode cobrir todas as regiões onde há operações voltadas ao agronegócio. Ou seja, do transporte de insumos ao produto in natura. Bem como subprodutos. Logo, a rede de atendimento tem mais de 160 unidades no País.

Enfim, graças a essa enorme estrutura o G10 movimentou mais de 20 milhões de toneladas de carga em 2020. Em entrevista ao Estradão, Adamuccio diz que o agronegócio continuará crescendo por mais 20 anos. Portanto, o grupo não se sente ameaçado pela intermodalidade. Contudo, as operações que utilizam mais de um modal de transporte deve crescer muito no segmento.

Seja como for, o grupo aposta em inovação para crescer. Nesse sentido, o G10 vem investindo em soluções próprias há pelo menos uma década. Por exemplo, fez parceria com a Scania para criar um cavalo-mecânico com tração 8x2. Sobretudo para atuar em operações de transporte de grãos e outras cargas a granel.


Redução de custos

Até então, esse tipo de transporte era feito por caminhões traçados. Porém, os veículos 6x4 não eram os mais adequados. Assim, o alto desgaste dos pneus deixava as operações muito caras. “Para reduzir os custos, adaptamos um Scania 6x2", afirma Adamuccio.

Segundo ele, o cavalo-mecânico virou um 8x2 para puxar carretas de três eixos. "Assim, aumentamos a capacidade e conseguimos transportar mais do que se usássemos uma vanderleia. Além disso, por um custo menor do que o de um bitrem”, conta. Confira, abaixo, a íntegra da entrevista do líder do G10:

O agronegócio

O agronegócio brasileiro vem se destacando cada vez mais. Como o senhor vê o futuro?
Nos próximos 20 anos o agronegócio brasileiro vai crescer ainda mais. Nesse sentido, o setor vai ampliar seu desenvolvimento tecnológico. Ou seja, virão inovações para dar conta da demanda. Nesse sentido, haverá a ampliação da intermodalidade.


Seja como for, o G10, em conjunto com as fabricantes de caminhões e de implementos, sempre desenvolveu projetos inovadores. Bem como está atento às novas tendências. Por exemplo, é o caso do caminhão 8x2.

Quais tendências devem se consolidar no agronegócio?
Primeiramente, a intermodalidade terá de se desenvolver. Algumas empresas de transporte veem isso como um problema. Porém, eu enxergo uma oportunidade. Por exemplo, tenho um cliente que integrou o trem ao porto. Assim, deixamos de fazer essa operação. Mas, graças à eficiência, o G10 entrou em outra atividade desse mesmo cliente. ou seja, da fazenda ao terminal.


Portanto, a logística tem de melhorar. E isso exige novos modais, o que reduz o custo da operação. Inclusive para nós, transportadores. Dessa forma, há operações que valem por causa do tipo de transporte. Outros só compensam até uma determinada distância..

Mais duas décadas significam alta na demanda de transporte. Haverá mais empresas no G10?Não pensamos em abrir vagas para novos sócios. Nesse sentido, embora já tenhamos sido abordados entendemos que o crescimento orgânico satisfaz as expectativas do grupo. Porém, sempre estamos em busca de inovações, conhecimento e parcerias. Assim, isso permitirá atender novas demandas.

Estrutura do G10

A gestão é melhor com apenas cinco empresas no grupo?
Eu sempre digo que o maior desafio para quem lidera empresas é promover o alinhamento de pessoas. Isso porque visões diferentes podem travar o crescimento. Por exemplo, ao longo da trajetória do G10 já passaram pessoas que viam a empresa como uma cooperativa.


Assim como outras que queriam um estilo de gestão de S/A. Portanto, tivermos de depurar e alinhar a direção visando o crescimento. Atualmente, somos cinco empresas que trabalham de forma alinhada. Assim, atuamos como uma S/A desde dezembro de 2020. Porém, o capital é fechado.

Mercado externo

O G10 atua fora do País, uma vez que há grandes grupos internacionais entre os clientes? Eventualmente, fizemos operações pontuais. Por exemplo, para a Bolívia. Porém, nosso foco é atender clientes no Brasil. Ou seja, no caso do agronegócio, por exemplo, o transporte dentro do País é um mercado muito maior. Então, preferimos concentrar as operações aqui.

Enfim, quero dizer que no transporte internacional o gasto de energia é maior que o resultado. Agora, se o cliente exigir, vamos fazer. Porém, sempre de modo pontual. Não temos interesse em expandir nossas operações para mercados externos.


Crise sanitária

Qual foi o impacto da pandemia para as empresas do G10?
O pior mês foi abril de 2020. Acima de tudo por causa do lockdown e das medidas de restrição adotadas em cada Estado. Logo, tivemos de buscar saídas, nos adaptar. Entre as providências, afastamos os motoristas e outros funcionários que fazem parte dos grupos de riscos. Além disso, concedemos férias que não estavam programadas.

Seja como for, houve queda no volume de transporte em vários setores. Por exemplo, no de etanol a queda foi de 50%, no de diesel, 20% e no querosene, 80%. Em contrapartida, o transporte de grãos não parou. Logo depois, de maio em diante, a demanda cresceu em alguns segmentos da indústria.

É o caso de produtos de higiene e limpeza. Aliás, houve aumento na demanda. Enfim, mesmo diante das adversidades, nosso faturamento em 2020 cresceu 20% na comparação com 2019. Porém, fomos bastante impactados pela alta de preços dos insumos.


Custo da operação x preço do frete

E como é lidar com esses aumentos, que são cada vez mais frequentes inclusive em 2021?
Está muito difícil. Além da falta de insumos, temos dificuldade até para negociar a compra de veículos, pneus, etc. Bem como a indústria está com dificuldade de entregar parte da produção. Assim, o reflexo é o aumento dos custos da operação.

Além disso, houve aumento de impostos e do preço do diesel, que representa o maior custo e não para de subir. Por sua vez, com o mercado escasso de bons profissionais, temos de reter os que estão conosco. Portanto, haverá impacto no resultado anual da operação.


Atualmente, só conseguimos renegociar valores de contratos com os clientes que estão crescendo. Então, a gente tem de equilibrar a operação. Ou seja, acabamos concentrando esforços nos clientes que estão pagando pelo serviço.

Dessa forma, em 2021 o faturamento do G10 deve crescer 20%. Em síntese, parte dessa alta será resultado do reajuste de tarifas e parte do crescimento do volume transportado. Nesse caso, a alta deverá ficar em torno dos 6%.

Seja como for, os reajustes são baixos. Assim, a projeção de alta no faturamento é com base nos reajustes mínimos do preço do frete, que já está achato. Afinal, há 20 mil concorrentes disputando os cerca de 200 clientes do G10. Portanto, trabalhamos com margens muito enxutas.


Infraestrutura

Saber gerenciar riscos e desenvolver soluções para cada operação são vantagens do G10?
Sem dúvida. Além disso, temos uma base de dados com mais de 35 mil caminhoneiros. Além disso, há casos em que mandamos técnicos de segurança junto com o caminhão para garantir que não ocorra nenhum problema.

Da mesma forma, o treinamento é constante. Assim, desenvolvemos um plano de gerenciamento de risco para cada tipo de operação. Dessa forma, também conseguimos oferecer o caminhão adequado conforme a necessidade do transporte.

Ou seja, levamos em consideração aspectos como modelo, ano de fabricação e as tecnologias que estão embarcadas. Assim, tudo é pensado para garantir que a carga chegue bem ao destino. Com isso, conseguimos atender bem todas as frentes do agronegócio.


Educação no transporte

A Universidade G10, mantida pelo grupo, é direcionada apenas a motoristas?
Essa é uma plataforma de ensino a distância. Assim, é direcionada aos nossos colaboradores e seus familiares. Portanto, são dois tipos de conteúdo. Ou seja, os específicos para os motoristas e os que eu chamo de "prateleira", que são os administrativos.

Seja como for, dá para baixar e assistir esses conteúdos a qualquer momento. Assim, os motoristas podem estudar quando quiserem. Depois, eles são avaliados por meio de uma prova.

Parte desses conteúdos foi desenvolvido pela equipa do G10. Mas também há os que são oferecidos no mercado e indicados pelos clientes. Todos são oferecidos de acordo com orientações feitas pelo pessoal das área de Recursos Humanos.


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