De olho na alta da demanda por entregas em domicílio, causado pelo aumento do número de casos de coronavírus, as grandes transportadoras ampliarão as operações no segmento dominado pelos Correios. A estatal detém 80% desse mercado e informa que já registrou alta na procura pelo serviço, embora não tenha revelado números.
Gigantes do setor, como a Braspress, estão renegociando seus contratos com as companhias que prestam serviços de transporte B2B (entre empresas). A meta é crescer o volume de operações no chamado segmento B2C (para o cliente final).
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“Como vai sobrar capacidade, por causa do fechamento dos shoppings, vamos migrar nossas atividades da ‘última milha’ para as entregas diretas ao consumidor”, diz o diretor-geral da transportadora, Giuseppe Lumare Júnior.
Transportadoras apostam em crescimento
Por ora, a entrega ao cliente final representa 20% das operações da Braspress. A meta é dobrar esse número nos próximos dois meses.
Lumare Júnior afirma que ainda não houve queda no volume de transporte de bens duráveis e vestuário. ” Mas isso vai acontecer”, diz
A empresa já registra um aumento no número de contatos de empresas interessadas nesse tipo de serviço. Os setores que mais têm feito consultas à Braspress são ligados às indústrias de alimentos, farmacêutica e de higiene pessoal.
O executivo lembra que a comemoração do Dia das Mães, uma das datas mais importantes para o varejo, ocorrerá durante o período de quarentena. Ele acredita que a maior parte das entregas desse período será feita diretamente ao consumidor final.
Atendimento garantido
Entre as grandes transportadoras, a Gran Cargo também tem forte presença no segmento B2B. As entregas B2C representam 30% das operações da transportadora.
A Gran Cargo atua principalmente nos Estados do Norte e Centro-Oeste do País. Se o cenário se agravar, a empresa poderá interromper as operações com mercadorias que não possam ser entregues. A informação é do diretor-geral da Gran Cargo, Evandro Ferrari.
De acordo com ele, a transportadora está pronta para atender à possível alta na demanda. Isso porque 70% da frota utilizada pela Gran Cargo é terceirizada.
“Só temos de adaptar o tipo de caminhão para fazer a operação porta-a-porta", diz Ferrari.
Mudança nas rotinas
A Flash Courier, que atua no segmento de entregas rápidas, já registra alta na demanda de pedidos do setor de farmácias. Presidente da empresa, Guilherme Juliani diz que a maior transformação vem acontecendo no setor alimentício.
A Flash Courier é uma das lideres entre as transportadoras que entregam cartões de refeição. E percebeu um aumento na migração para endereços residenciais.
O motivo, segundo informações da empresa, é a alta no número de pessoas em home-office.
Na área de medicamentos, houve aumento de demanda por entregas de amostras grátis em consultórios médicos. Isso porque os propagandistas deixaram de fazer visitas a clínicas.
O executivo afirma que a mudança na rotina de várias categorias de trabalhadores impactou positivamente o setor de entregas rápidas. Contratos que estavam sendo negociados foram fechados ao longo da última semana.
SP flexibiliza regras para circulação
Desde a manhã de quinta-feira (19), a Prefeitura de São Paulo liberou a circulação de alguns tipos de caminhão na cidade. A medida, válida até 5 de abril, tem como objetivo garantir o abastecimento de mercadorias essenciais na capital.
Estão liberados os caminhões que transportam alimentos perecíveis, inclusive de feirantes e produtos da área de saúde, como vacinas e medicamentos. Os Veículos Urbanos de Carga (VUC), que nas transportadoras são os maiores responsáveis pelas entregas B2C, também estão livres para circular pela capital em qualquer horário.
Esse tipo de caminhão será dada vez mais demandado, segundo o presidente da Associação Nacional do Transporte de Cargas e Logística (NTC&Logística), Francisco Pelúcio. De acordo com ele, as entregas de produtos essenciais, sobretudo em supermercados e farmácias, crescerá bastante.
Volta do papel e da caneta
Pelúcio diz que os transportadores devem orientar muito bem os motoristas e entregadores sobre os riscos do coronavírus e as formas de evitar o contágio. A Braspress, por exemplo, que pedia aos clientes que confirmasse o recebimento por meio de assinatura eletrônica no smastphone do entregador, voltou a utilizar os tradicionais papel e caneta – que é mais fácil de ser higienizada.