A Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea) considera inviável a proibição da venda de veículos com motores a gasolina e diesel no Brasil a partir de 2030. O veto está previsto no projeto de lei 304/2017, do senador Ciro Nogueira (PP-PI). O texto foi aprovado na quarta-feira (12), em Brasília, pela Comissão de Constituição e Justiça (CCJ). Agora, aguarda avaliação da Comissão de Meio Ambiente (CMA).
De acordo com o PL, só poderão ser vendidos no País veículos novos movidos a biocombustíveis, como etanol e biodiesel. O modelos elétricos continuarão liberados. Segundo informações da assessoria do senador, veículos híbridos, que combinam motores a combustão e elétrico, também serão vetados.
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No PL, Nogueira argumenta que combustíveis como gasolina e diesel são responsáveis por um sexto das emissões de dióxido de carbono na atmosfera. O senador defende que os veículos com motores a combustíveis fósseis sejam substituídos por elétricos e com motores movidos a biocombustíveis.
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Projeto tem de ser discutido
Para a Anfavea, o prazo de dez anos estipulado para o cumprimento da meta é muito curto. A associação informa que antes disso é preciso haver um amplo debate sobre o tema. As discussões teriam de envolver temas como a capacidade de a matriz energética brasileira atender uma frota eletrificada.
A entidade lembra que o Congresso aprovou recentemente o Rota 2030. O programa do setor automotivo estabelece metas de eficiência e emissões até 2034. Já há, portanto, prazos e etapas estabelecidos para as montadoras. Isso inclui inovações para melhorar a eficiência dos motores, inclusive os a gasolina e diesel.
Em outubro, o diretor técnico da Anfavea, Henry Joseph Junior, esteve na CCJ para explicar as razões da inviabilidade da proposta. Como não obteve êxito, a associação das fabricantes pretende enviar um grupo técnico à CMA para argumentar contra o projeto de Nogueira.
Para o consultor da ADK Automotive, Paulo Garbossa, tentar mudar a matriz energética do Brasil em um prazo tão curto é "loucura". Ainda assim, o especialista do setor de veículos afirma que a proposta tem aspectos positivos. "A coisa é complicada e o prazo é curto, mas esse é um ponto de partida e é preciso fazer algo", afirma.
Etanol e gás são alternativas
O Brasil já tem projetos visando a redução das emissões de poluentes por veículos. No caso de automóveis, há boas opções aos motores a gasolina e diesel. É o caso do etanol, que está mais do que consolidado. No segmento de pesados, o gás desponta como uma das principais apostas.
Everton Silva, da Sociedade de Engenheiros para a Mobilidade (SAE Brasil), afirma que o etanol é uma solução 100% viável. "Sistemistas e montadoras já estão prontas para lidar com a redução do nível de emissões e poluentes com produtos movidos apenas a etanol".
Além de poder ser utilizado em motores de melhor eficiência energética, como os com turbo, o etanol gera energia elétrica sem emitir poluentes. A Nissan é uma das empresas com projetos avançados nesse campo.
No Brasil, a marca oferece modelos com motores flexíveis e a diesel. E pretende lançar o Kicks com um sistema que utilizará um pequeno motor a etanol para gerar energia para o propulsor elétrico que moverá o SUV.
O carro elétrico equipado com grandes conjuntos de baterias é o conceito mais difundido no mundo atualmente. Mas esse tipo de produto é caro e enfrenta grandes desafios. Principalmente em relação à infraestrutura de recarga.
Eletricidade substituirá gasolina e diesel
Um dos principais entraves é que não há uma rede de pontos de recarga que cubra todo o País. Sua eventual implementação demandaria muito tempo e grandes investimentos. Além disso, a maior parte da eletricidade consumida no Brasil é gerada por usinas hidrelétricas. Em períodos de estiagem é preciso acionar termelétricas, que produzem grande quantidade de CO2.
Além disso, do ponto de vista prático, recarregar as baterias de veículos elétricos é muito demorado. Encher o tanque de um carro de passeio leva menos de 5 minutos. Já recarregar as baterias de modelos elétricos demora pelo menos dez vezes mais. O conceito da Nissan eliminará boa parte desses problemas.
Silva lembra que o Brasil já tem projetos para reduzir os níveis de emissões veiculares. Ele se refere ao Rota 2030, que estipulou uma série de mudanças nos veículos feitos no País, e ao RenovaBio. O Rota 2030 é um programa que inclui metas de eficiência energética para motores movidos a combustíveis fósseis e estímulo à produção de carros híbridos e elétricos.
Troca de frota será subsidiada
No caso de caminhões e ônibus, o gás desponta como a principal aposta para reduzir as emissões de poluentes. Em abril, o governo deve apresentar uma proposta de mudanças nas frotas de ônibus das grandes cidades do País. Em entrevista ao BRPolítico, o ministro do Meio Ambiente Ricardo Salles afirmou que o objetivo é trocar os motores a diesel por gás.
Em um segundo momento, os ônibus a gás dariam lugar aos elétricos. De acordo com Salles, o projeto poderá contar com investimentos estrangeiros. Ele afirma que o financiamento deverá ter juros próximos a zero . “Será tudo subsidiado. Já estamos negociando um recurso internacional para ajudar na substituição de toda a frota”, afirma.
Os caminhões a gás também estão nos planos do Ministério do Meio Ambiente. “Estamos tratando de ônibus dos grandes centros urbanos. Num segundo momento, podemos pensar na frota de caminhões”, diz Salles.
Scania tem caminhão a gás e a etanol
A oferta de caminhões a gás deve se consolidar nos próximos anos. Na mais recente edição da Fenatran, em outubro do ano passado, a Scania começou a aceitar encomendas para esse tipo de veículo. A produção das primeiras unidades teve início há cerca de duas semanas na fábrica da marca em São Bernardo do Campo (SP).
A Scania também já desenvolveu caminhões a etanol no Brasil. Em 2016, a marca sueca vendeu três unidades do P 270 com tração 4x2 movidos pelo biocombustível à fabricante de produtos químicos Clarence. A "frota" era utilizada apenas nas dependências da empresa em Suzano, cidade localizada na grande São Paulo.
Os modelos tinham motor turbodiesel de 8,9 litros adaptados para rodar com 95% de etanol e 5% de Master Batch 95. Trata-se de um aditivo químico desenvolvido pela própria Clarence.