A inauguração da fábrica da Scania em Rugao, na província de Jiangsu, na China, representa um dos movimentos mais importantes na história recente da marca. A nova planta do grupo se junta às da Suécia, país-sede da companhia, e do Brasil. Assim, amplia a presença da Scania no maior mercado de caminhões do mundo. Do mesmo modo, inaugura um ciclo de produtos desenvolvidos exclusivamente para atender o consumidor chinês e de outros países da Ásia.
Em entrevista ao Estradão, o diretor de desenvolvimento da Scania do Brasil, Marcelo Gallao, detalha como a nova operação foi desenhada. Bem como o que muda na estratégia global da empresa.
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Scania aposta no mercado chinês e entrega escolha total ao cliente
Conforme Gallao, a operação da Scania na China é orientada àquele mercado. Portanto, a marca vai oferecer desde configurações simples até versões premium de seus veículos. “Não vamos 'forçar' o cliente chinês a escolher um produto. Vamos entregar todas as condições e deixar o mercado decidir”, afirma.
Segundo o executivo, como a Scania é novata naquele país, é preciso haver o que ele chama de escuta ativa. “Somos entrantes nesse mercado. Então, precisamos observar o comportamento do cliente. A modularidade da Scania, que permite mais de 2,5 milhões de combinações, ajuda porque conseguimos moldar o caminhão exatamente como o mercado e sua legislação exigem”, diz Gallao.
Next Era cria linha inédita da Scania para a China
Dessa forma, entre os pilares da operação chinesa está o Scania Next Era. Ou seja, o primeiro caminhão desenvolvido exclusivamente para atender normas e padrões locais. Assim, ele diz que isso simboliza uma ruptura em relação aos produtos globais feitos na Suécia e no Brasil. Portanto, a Scania sinaliza que não se trata da próxima geração de seus modelos globais.

De acordo com Gallao, o Next Era incorpora itens de fornecedores chineses. Da mesma forma, seu visual é “mais orientalizado” e não há alguns componentes exigidos pelas legislações europeia e americana, por exemplo. Como resultado, além do custo competitivo é possível aprimorar aspectos como o conforto. Ou seja, um dos requisitos dos clientes daquele país, já que o caminhoneiro permanece longos períodos no veículo.
Porém, Gallao diz que não se trata de um modelo mais simples. "É um caminhão diferente, pensado para um mercado com demandas específicas”, afirma. Segundo ele, os automóveis chineses têm, por exemplo, maior distância entre os eixos que os ocidentais. Isso porque quem viaja no banco traseiro ocupa posição de maior status. Essa mesma lógica vale para os caminhões para aquele mercado.
Conforto e disponibilidade lideram a lista de prioridades
Além disso, o consumidor chinês de caminhões valoriza mais a disponibilidade do que o consumo de combustível. Segundo Gallao, o cliente quer que o caminhão rode o maior tempo possível, porque a produtividade depende disso. “O chinês quer fazer o mínimo de paradas. Ele leva economia em consideração, mas coloca a disponibilidade em primeiro plano.”
Como resultado, a área de engenharia da Scania modula combinações que priorizam a confiabilidade absoluta. Em alguns casos, a marca chega a sacrificar recursos de maior sofisticação para ganhar robustez no ciclo de operação.
Outro aspecto específico da China está na duração das jornadas de trabalho. A legislação local permite períodos aos volante mais longos que os autorizados no Brasil e na Europa. Assim, há maior necessidade de áreas de descanso maiores e com maior nível de conforto na cabine.
Nova planta da Scania na China é completa

Para isso, a nova unidade industrial é completa. Assim, tem estamparia e solda e produz cabines, motores, eixos e câmbios. Dessa forma, o objetivo para o primeiro ano de produção é fazer 10 mil unidades no país. Ou seja, volume alinhado ao processo de ramp-up (aumento gradativo da produção).
Nesse sentido, vale lembrar que, segundo dados da Oica, que representa as fabricantes de veículos do mundo todo, em 2024 foram vendidos 1,6 milhão de caminhões na China. Vale dizer que as marcas locais Foton, Sinotruck e Faw lideram as vendas. “Vamos crescer em etapas, com muito cuidado e qualidade. A fábrica é grande e exige tempo até atingir o ritmo total, que é de 50 mil caminhões”, diz Gallao.
Embora o foco inicial seja atender o mercado doméstico, a unidade poderá fazer caminhões para atender Tailândia, Malásia, Coreia do Sul, entre outros países do Sudeste Asiático e Oceania. Assim, será possível reduzir o tempo de entrega, que atualmente chega a 10 semanas para produtos enviados do Brasil e da Europa. “Estar na China significa entregar caminhões em muito menos tempo. Conseguimos atender clientes asiáticos com agilidade e eficiência”, diz Gallao.
Portfólio inclui linha Super com motores de 420 cv a 560 cv
Portanto, a fábrica chinesa também produz a linha global de modelos Scania Super. Assim, os chineses têm à disposição os mesmos caminhões à venda no Brasil, com motores de 420 cv a 560 cv de potência. Ou seja, a faixa que atende a maior parte das aplicações chinesas.
Porém, o Next Era será exclusivo para aquele mercado. “Ele nasce para a China e segue todo o padrão local, inclusive com comandos e interfaces em chinês”, reforça Gallao. Para exportação, a fábrica da Scania China fará caminhões globais. Conforme o executivo, a estrutura modular permite oferecer variações que atendam diferentes legislações, ambientes, faixas de carga e níveis de acabamento.
China demanda soluções avançadas de conectividade
Ademais, Gallao destaca que o mercado chinês opera com níveis de conectividade mais altos que o de muitos países ocidentais. “A gestão de frota na China é totalmente online. O cliente exige que tudo funcione com disponibilidade total e monitoramento em tempo real”, diz.
Nesse sentido, a Scania configurou seu portfólio local de produtos com recursos avançados de telemetria, rastreamento e integração digital. Portanto, isso reforça a estratégia global de ampliar a participação de serviços digitais nas operações da fabricante.
Brasil ganha força na operação global da Scania
Mesmo com a inauguração da planta na China, o Brasil mantém papel estratégico na rede global da marca de origem sueca. Nesse sentido, a área de engenharia no País é responsável por desenvolver soluções regionais e tecnologias adaptadas à América Latina.
Além disso, a modularidade facilita o compartilhamento de plataformas e acelera o fluxo de inovação entre as fábricas. “A China aumenta nossa escala global e fortalece o posicionamento da marca. Ao mesmo tempo, reforça a importância de cada hub. O Brasil continua sendo decisivo no portfólio mundial”, afirma o executivo.