O Regional Center América Latina (RCAL), em São Bernardo do Campo, no ABC paulista, é o maior centro de desenvolvimento de chassis de ônibus da Mercedes-Benz fora da Alemanha. Responsável por 70% das vendas globais de ônibus da marca, a unidade concentra áreas de engenharia, bem como de testes e validação de produtos para mais de 50 países na América Latina, África, Oriente Médio e Ásia.
Conforme o gerente de vendas e marketing da Mercedes-Benz, Augusto França, o RCAL virou referência global em inovação e flexibilidade. “Como a Alemanha fabrica apenas veículos integrais, faz todo o sentido o desenvolvimento de chassis estar aqui. Temos autonomia para criar soluções específicas e atender legislações e condições operacionais muito diferentes”, diz.
- VEJA MAIS:
- Novo Axor supera em 15% das vendas e anima Mercedes-Benz
- Scania Locação tem 400 caminhões em operação, sendo 30% a gás
- Consórcio de caminhões avança e reponde por 1 de cada 4 vendas no Brasil
Além disso, o RCAL conta com infraestrutura de engenharia avançada. Ou seja, bancos de prova e áreas de validação capazes de simular altitude, temperatura e combustíveis variados. Essa estrutura permite que a marca mantenha uma competência técnica global a partir do Brasil, aliando robustez e eficiência.
Desafio técnico: produzir Euro 3, 5 e 6 ao mesmo tempo
Atender mercados tão diversos exige um nível de complexidade que poucas fabricantes no mundo enfrentam. A Mercedes-Benz do Brasil produz ônibus Euro 3, Euro 5 e Euro 6 simultaneamente, para exportação sob demanda. Países como Chile e Colômbia já exigem motores Euro 6. Enquanto Peru e República Dominicana ainda operam com Euro 3, por exemplo. Além disso, há outros países em que não há exigência de normas.
“Cada mercado tem uma norma, idioma, tipo de homologação e realidade de combustível. Por isso, nossa produção é sob encomenda. Nenhum chassi é feito para estoque”, afirma França.
No entanto, o avanço mais recente está em padronizar a arquitetura eletrônica dos veículos. Dessa forma, a Mercedes-Benz decidiu adotar uma base técnica do Euro 6 para todos os chassis. Inclusive os destinados a países com motores de emissões mais antigas.
Upgrade tecnológico de motores antigos com cérebro novo

Com essa padronização, o centro brasileiro conseguiu elevar o padrão técnico dos chassis Euro 3 e 5, aplicando sistemas eletrônicos e sensores de última geração oriundos do Euro 6. “Hoje, o O500 e os demais modelos saem da linha com a mesma arquitetura eletrônica do Euro 6. Fazemos apenas um downgrade no motor e nos sistemas de emissões para atender cada mercado”, explica o executivo.
Mesmo veículos destinados a países que ainda operam com motores mecânicos ou eletrônica simples passam a contar com recursos modernos de segurança. Assim como com diagnóstico e controle de desempenho como freios eletrônicos, assistentes de condução e monitoramento remoto.
Além disso, essa uniformização reduz custos de engenharia, facilita o pós-venda e mantém o padrão de qualidade Mercedes-Benz em qualquer país. “Em vez de manter várias plataformas distintas, usamos uma base única. O que garante confiabilidade e disponibilidade de peças”, completa França.
Centro brasileiro Mercedes-Benz é vitrine e exporta conhecimento
O impacto do centro latino-americano vai além da produção. Hoje, a unidade brasileira treina concessionários de outros países para operar e manter os novos chassis. Cada lançamento envolve capacitação técnica e suporte presencial. O que assegura que a rede internacional esteja pronta antes do início das vendas.
Atualmente, nove mercados homologados concentram 65% das exportações, com o Brasil responsável pela maior parte da produção encarroçada. Os principais destinos são Peru, Chile, Colômbia, Equador e República Dominicana.
Por outro lado, a Mercedes-Benz também trabalha com chassis desenvolvidos na Índia (BharatBenz) para atender mercados altamente competitivos, como o Peru, onde enfrenta a forte presença de veículos chineses. “A Índia nos ajuda a competir com preço. Mas a engenharia e o controle de qualidade permanecem nossos”, ressalta França.
Latam em recuperação e foco no pós-venda
O mercado latino-americano ainda se recupera da pandemia no que se refere à venda de ônibus. Todavia, o movimento é consistente, impulsionado por novos projetos de mobilidade e modernização de frotas. “Ainda não atingimos os volumes pré-pandemia. Mas estamos chegando perto”, comenta França.
Além disso, o pós-venda tornou-se um diferencial estratégico. A rede de 86 concessionários espalhados pela região assegura suporte técnico, garantia e disponibilidade de peças, fatores decisivos para frotistas que operam com margens estreitas.