Mercado

Grupo Paccar, dono da DAF, vê lucro despencar após queda nas vendas nos EUA

Lucro do grupo Paccar caiu 39% no terceiro trimestre de 2025, pressionado pela menor demanda por caminhões nos EUA e Canadá

Thiago Vinholes

26 de out, 2025 · 9 minutos de leitura.

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Paccar, DAF, Kenworth, Peterbilt
O grupo Paccar é o controlador das marcas DAF, Kenworth e Peterbilt
Crédito:Paccar/Divulgação

O grupo Paccar, controlador das marcas de caminhões DAF, Kenworth e Peterbilt, registrou uma forte queda em seu desempenho financeiro no terceiro trimestre de 2025. O conglomerado anunciou um lucro líquido de US$ 590 milhões, valor 39,3% menor que os US$ 972,1 milhões registrado no mesmo período de 2024. Ao mesmo tempo, a receita total da companhia recuou 19%, passando de US$ 8,24 bilhões para US$ 6,67 bilhões.

De acordo com a empresa, o resultado reflete principalmente a desaceleração nas vendas de caminhões nos Estados Unidos e no Canadá, dois de seus maiores mercados. Ainda assim, as divisões de peças e serviços financeiros ajudaram a suavizar a queda, registrando desempenho positivo no trimestre.

O CEO do grupo, Preston Feight, afirmou que, mesmo diante do cenário adverso, a Paccar manteve bons resultados operacionais. “Os excelentes caminhões da Peterbilt, Kenworth e DAF contribuíram para o desempenho do trimestre”, disse o executivo. Segundo o executivo, as divisões Paccar Parts e Paccar Financial Services apresentaram “lucros sólidos”.

Queda nas vendas e cautela no mercado norte-americano

Entre julho e setembro, a Paccar vendeu 31.900 caminhões em todo o mundo, o que representa uma queda de 29% em relação aos 44.900 veículos entregues no mesmo trimestre do ano anterior. O recuo impactou diretamente a receita com caminhões, que caiu 27,4%, de US$ 6,03 bilhões para US$ 4,38 bilhões.

Nos Estados Unidos e Canadá, o grupo comercializou 17.100 veículos, número 34% menor que o registrado no terceiro trimestre de 2024. A empresa já havia previsto uma desaceleração, mas a intensidade da queda surpreendeu parte do mercado. Ainda assim, a Paccar mantém previsão de entregar 32.000 caminhões globalmente no quarto trimestre de 2025, o que indicaria uma leve recuperação no curto prazo.


Conforme a administração, as vendas de caminhões pesados no varejo norte-americano devem fechar o ano de 2025 entre 230 mil e 245 mil unidades, abaixo das estimativas iniciais, que variavam de 250 mil a 280 mil. Feight explicou que a incerteza tarifária e o enfraquecimento do mercado de fretes nos EUA continuam limitando as decisões de compra das frotas.

Perspectiva de recuperação em 2026

Apesar dos números negativos, a Paccar informou que 2026 trará um cenário mais favorável. A empresa projeta um crescimento nas vendas de caminhões pesados para uma faixa entre 230 mil e 270 mil unidades nos EUA e Canadá. De acordo com o CEO do grupo, o próximo ano deve ser beneficiado por maior estabilidade nas tarifas de importação, regras de emissões mais claras e uma melhora gradual na demanda por transporte de cargas na América do Norte.

O executivo destacou que o novo regime tarifário, anunciado pelo governo Trump em outubro e com vigência a partir de novembro, poderá dar vantagem competitiva ao grupo Paccar frente a marcas que oferecem produtos importados nos EUA. Embora a empresa ainda avalie o impacto exato das medidas, Feight afirmou que o grupo tem capacidade de aumentar a produção e ganhar participação de mercado caso o cenário se torne mais previsível.

Além disso, a redução das incertezas deve estimular as transportadoras a renovar suas frotas. “Tem sido um período longo e difícil para o segmento de caminhões e, em algum momento, as empresas terão que substituir seus veículos”, afirmou o CEO. Ademais, Feight acrescentou que, com uma recuperação consistente, a Paccar poderá ajustar seus preços para acompanhar o mercado.

Peças e serviços sustentam resultados

Enquanto o negócio de caminhões enfrenta retração, as divisões Paccar Parts e Paccar Financial Services registraram balanços positivos. A unidade de peças registrou lucro antes dos impostos de US$ 410 milhões, alta de 0,8% em relação ao mesmo trimestre de 2024. A receita foi recorde, alcançando US$ 1,72 bilhão, contra US$ 1,66 bilhão um ano antes.


A empresa também anunciou planos para abrir um centro de distribuição de peças em Calgary, no Canadá, e uma fábrica de remanufatura em Columbus, Mississippi, ambas previstas para 2026. Atualmente, a Paccar Parts opera 20 centros de distribuição no mundo e busca ampliar a eficiência logística na entrega de componentes a concessionárias e clientes.

Já a Paccar Financial Services apresentou lucro antes dos impostos de US$ 126,2 milhões, aumento de 18,5% em relação ao terceiro trimestre de 2024. A receita subiu 5,5%, totalizando US$ 565,3 milhões. De acordo com o vice-presidente da divisão, Craig Gryniewicz, o resultado reflete a melhora do mercado de caminhões usados e o baixo nível de inadimplência em seu portfólio de 229 mil caminhões e reboques. A subsidiária de leasing PacLease mantém uma frota de 39 mil veículos.

Grupo Paccar mantém otimismo, mas com cautela

Mesmo com o tom otimista dos executivos, a Paccar reconhece que o desempenho de 2026 dependerá de fatores externos, especialmente da regulamentação ambiental norte-americana. A regra da agência ambiental dos EUA, que estabelece limites de 0,035 gramas de óxidos de nitrogênio por cavalo-vapor-hora para caminhões pesados, prevista para entrar em vigor em 2027, ainda pode gerar incertezas sobre o ritmo das compras no próximo ano.

Feight afirmou que a companhia está preparada para se adaptar a qualquer decisão regulatória. “A lei é a lei até que mude”, resumiu o executivo, ressaltando que o grupo Paccar mantém estrutura financeira sólida e capacidade industrial para reagir rapidamente às mudanças de mercado.

Assim, mesmo após um trimestre de forte retração, o grupo aposta na diversificação de receitas e na recuperação do setor de transporte rodoviário para retomar o crescimento a partir de 2026.


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