Com crédito escasso e juros ainda em 15% ao ano, o setor de caminhões atravessa um momento de retração no uso de linhas de financiamento para compra de modelos novos. Assim, o consórcio ganha força e se tornou a principal opção para quem busca previsibilidade e menor custo de aquisição.
Conforme a Associação Brasileira de Administradoras de Consórcios (ABAC), o segmento de pesados, que inclui caminhões e máquinas agrícolas, movimentou R$ 33,54 bilhões de janeiro a agosto de 2025. Ou seja, cresceu 13,7% ante o mesmo período de 2024. Além disso, o valor total de créditos liberados aumentou 48,3%, para R$ 15,66 bilhões. O tíquete médio mais do que dobrou, para R$ 401,4 mil.
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Apesar disso, as novas adesões recuaram 17,4%, para 133,43 mil no período. Desse total, 54,71 mil são cotas para a compra de caminhões. Da mesma forma, 26,1% dos caminhões vendidos no País em 2025 foram adquiridos por meio de consórcio. Ou seja, cerca de um a cada quatro veículos novos.

Marcas fortalecem operações e ampliam público
Conforme o diretor comercial do Consórcio Scania, Rodrigo Clemente, o produto “vive um momento de maturidade”. Como resultado, a empresa deve encerrar 2025 com 3.800 cotas vendidas e projeta chegar a 4.000 em 2026. “Com juros altos, o consórcio se torna uma ferramenta poderosa de planejamento", diz. "Ele entrega previsibilidade e reduz o custo financeiro, fazendo o transportador investir com mais racionalidade.”
No mesmo sentido, a gerente do Consórcio Volvo, Thaís Schmelzer, observa que o sistema tem sido essencial para os autônomos. “O consórcio permite começar com parcelas menores e ajustá-las quando o caminhão começa a gerar receita. É um modelo sustentável e inteligente de investimento”, afirma.
VW e Mercedes dobram participação no segmento
Na Volkswagen Caminhões e Ônibus, o CEO da Traton Financial Services, Eduardo Portas, destaca que o consórcio passou a ter papel estratégico também no curto prazo. “Hoje o transportador combina financiamento e carta de crédito. Ele vende o usado, dá um lance alto e é contemplado rapidamente. Assim, renova a frota sem se expor aos juros do mercado”, explica o executivo.
Atualmente, o consórcio representa quase 10% das entregas de caminhões VW. Em outras palavras, o dobro da fatia registrada em 2024. Enquanto isso, na Mercedes-Benz, o diretor comercial do Consórcio Mercedes-Benz, Cláudio Jesus, celebra o quinto ano consecutivo de crescimento de dois dígitos.
“Entre janeiro e setembro, crescemos 15% em volume de cotas. Nosso plano Pontual entrega o caminhão a partir da sexta assembleia. O que atrai clientes de todos os portes”, destaca. A fabricante deve fechar 2025 com 6.000 cotas vendidas. Assim, vai registrar um avanço de 25% sobre o ano anterior.

DAF e Iveco ganham espaço no agronegócio e no varejo
O gerente regional de vendas da DAF, Paulo Souza, afirma que o Consórcio Nacional DAF (CNDAF) já responde por 7% das vendas de caminhões novos. “Mesmo num cenário desafiador, o consórcio segue como modalidade planejada e segura”, comenta.
Segundo Souza, 80% dos consorciados são pessoas jurídicas. Sendo que o DAF XF, nas versões 6x2 e 6x4, lidera as adesões.
Na Iveco, os números são ainda mais expressivos. O gerente comercial do Consórcio Iveco, Mauro Andrade, relata alta de 20% em créditos comercializados e crescimento de 40% nas cotas vendidas até agosto. “Com a Selic elevada, o consórcio virou alternativa inteligente para comprar sem comprometer o caixa. É também uma forma de educar financeiramente o transportador”, afirma. Os modelos Daily e S-Way lideram as adesões, com público composto por 70% de pessoas jurídicas e 30% de físicas.
Administradoras independentes surfam na mesma onda

O movimento positivo também impulsiona empresas fora das montadoras. Nesse sentido, o vice-presidente de marketing e vendas da Embracon, Luís Toscano, afirma que as vendas de consórcios de veículos pesados cresceram 110%. E as cotas vendidas subiram 92% entre janeiro e agosto.
“Em um cenário de incertezas econômicas, o consórcio é a solução ideal. Sem juros, com taxas acessíveis e previsibilidade, ele se consolida como estratégia segura de aquisição”, diz Toscano.
Além disso, o consórcio de máquinas agrícolas da Embracon avançou 88%. Sendo impulsionado pelo agronegócio e pela diversificação de atividades dos transportadores.
Transportadores veem o consórcio de caminhões como investimento
Para o presidente executivo da ABAC, Paulo Roberto Rossi, o consórcio deixou de ser apenas uma opção de compra parcelada. E se tornou parte do planejamento de investimento das empresas de transporte. “O empresário do setor aprendeu a planejar e buscar alternativas que caibam no orçamento, sem endividamento excessivo”, diz.
Dessa forma, o produto passa a ser visto como ferramenta de investimento e gestão financeira. Sobretudo, em um cenário em que financiamentos tradicionais exigem entrada alta, juros pesados e análise rigorosa de crédito.
Por isso, cada vez mais frotistas e autônomos utilizam o consórcio para renovar caminhões, expandir operações e se preparar para novas tecnologias. Como, por exemplo, com modelos a gás e elétricos, que já começam a chegar ao transporte pesado brasileiro.