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MWM e PepsiCo convertem caminhão a diesel em biometano

Parceria entre Tupy, dona da MWM, e PepsiCo converte um VW Delivery 6-160 a diesel em gás, prolongando sua vida útil e reduzindo emissão

Andrea Ramos

16 de out, 2025 · 9 minutos de leitura.

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Frota a gás, Pepsico e Tupy MWM
Frota a gás, Pepsico e Tupy MWM
Crédito:Pepsico/Divulgação

O que antes seria um caminhão prestes a sair de circulação na frota da PepsiCo ganhou uma segunda chance. Ou seja, a MWM, subsidiária da Tupy, e a PepsiCo desenvolveram uma solução completa que transformou um Volkswagen Delivery 6-160 com motor a diesel em um modelo movido a gás natural e biometano.

Segundo as empresas, o projeto tem como objetivo de prolongar a vida útil de veículos de carga, bem como reduzir o impacto ambiental e oferecer uma alternativa economicamente viável à substituição por modelos novos. Além disso, o projeto é inédito no Brasil. Afinal, trata-se do primeiro caminhão semileve transformado para utilizar gás.

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Conforme o head da unidade de negócios energia & descarbonização da Tupy, Cristian Malevic, o projeto representa um marco muito importante para a MWM. "Pois demonstra a nossa capacidade de entregar soluções complexas. E que combinam sustentabilidade, eficiência e inovação”, afirma.

Caminhão da PepsiCo teve o motor trocado

Diferentemente de adaptações convencionais, na qual o motor a diesel é convertido, o Delivery da PepsiCo traz uma solução mais completa. Ou seja, com base na experiência da MWM como fabricante de motores, o VW teve o caminhão a diesel substituído por outro a gás.


Dessa forma, a empresa informa que a potência e o torque foram mantidos. Entretanto, o novo motor permitiu reduzir em até 95% as emissões de gases poluentes ao utilizar biometano. Além disso, o processo inclui instalação completa de cilindros, linhas de gás e certificação do Inmetro.

Assim, garante segurança e conformidade legal para utilização do caminhão em operações comerciais. Nesse sentido, Malevic diz que todos os veículos passam por vistoria completa. "Somente após a aprovação é possível registrar a conversão como gás, conforme as normas de segurança."

Economia circular e viabilidade financeira

De acordo com o diretor de transportes da PepsiCo Brasil, Anderson Pinheiro, o retrofit é uma maneira inteligente e econômica de acelerar a descarbonização. “O caminhão estava no fim da vida útil em nossa frota. Com o retrofit, conseguimos prolongar sua operação com custo muito inferior ao de um veículo novo, e utilizando um combustível renovável”, afirma.

Ou seja, o custo da conversão representa de 25% a 35% do valor de um caminhão novo, no caso de modelos leves e de 20% a 25% no de médios e pesados. Segundo a empresa, a autonomia pode chegar a 350 km entre os reabastecimentos.

Conforme a PepsiCo, o Volkswagen Delivery 6-160 é reabastecido com biometano da planta da empresa em Itu (SP). Trata-se da primeira estação do tipo da companhia na América Latina, que já atende 70% de sua frota de veículos a gás. Vale ressaltar que a PepsiCo tem veículos elétricos leves e pesados a gás.


Cristian Malevic, head da Tupy
Malevic, da Tupy, diz que já há demanda vinda de outros clientes, inclusive para ônibus - Fotos: Tupy

Soluções integradas para reduzir as emissões

Assim, o Delivery de 6 toneladas convertido para gás integra a frota de 81 veículos leves da PepsiCo. Desses, 5% são elétricos. A meta global da companhia é reduzir em 30% as emissões até 2030. Isso com base na chamada pep+ (PepsiCo Positive), estratégia que visa ampliar a sustentabilidade do negócio.

Além do retrofit, a multinacional da área de alimentos e bebidas mantém projetos com baús recicláveis, painéis solares instalados nos caminhões e pontos de abastecimento próprios de biometano. Assim, mostra que redução de emissões pode ser alcançada por meio de soluções integradas.

“Tudo que fazemos precisa ser escalável e orgânico”, afirma Pinheiro. “Foi assim com os caminhões com painéis solares. Começamos com um protótipo e hoje já são mais de 360 veículos com essa tecnologia. O mesmo caminho será seguido com o retrofit.”

Acréscimo de peso foi compensado

Segundo a MWM, seu motor a gás tem o mesmo tipo de manutenção e a mesma durabilidade de outro equivalente a diesel. Porém, para compensar o peso adicional dos cilindros de gás, a Tupy ajustou em cerca de 5% o torque nominal. Dessa forma, preserva a performance, mantendo a eficiência energética.


Além disso, o sistema de exaustão a diesel, com tanque de Arla 32 e catalisador, foi removido. Ou seja, isso contribui para compensar parte do acréscimo de peso, de cerca de 250 kg. “O resultado é um caminhão com a mesma capacidade de carga, mas gera emissão praticamente nula”, diz Pinheiro.

Caminho aberto para novas aplicações

Assim, a nova solução cria oportunidades bastante interessantes de negócio. Como resultado, a MWM já realiza projetos semelhantes com frotas de coleta de resíduos urbanos e ônibus municipais. E destaca o potencial de aumento da demanda, especialmente em São Paulo, por meio do uso de biometano gerado em aterros sanitários.

Anderson Pinheiro, diretor de Transportes da PepsiCo
Pinheiro diz que projeto tem tudo para ganhar escala à medida que a frota envelhece -Fotos: PepsiCo

Conforme Malevic, a transformação de motores a diesel para biometano será uma ferramenta estratégica para a transição energética no transporte pesado brasileiro. "É tecnicamente viável, economicamente competitiva e ambientalmente transformadora”, afirma.

Potencial de longo prazo

De acordo com a PepsiCo, após três meses da implantação do projeto piloto já há estudos que visam incorporar essa solução como estratégia de longo prazo. A expectativa é que a tecnologia se expanda conforme os veículos forem envelhecendo. Assim, o que seria o fim da vida útil dos veículos pode virar, de forma sistemática, o início de um novo ciclo.


Enquanto isso, a MWM informa que se prepara para apresentar novas opções ao mercado. Porém, não apenas voltadas ao retrofit. Nesse sentido, a empresa promove projetos com montadoras para equipar veículos 0-km. E reforça a vocação da engenharia brasileira como um celeiro de criação de caminhos para reduzir as emissões.

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