Durante anos, a eletrificação do transporte rodoviário pesado gerou ceticismo. Diferentemente dos carros de passeio, os caminhões percorrem longas distâncias, exigem alto desempenho energético e operam em condições desafiadoras. No entanto, os avanços tecnológicos eliminaram as principais dúvidas. Portanto, hoje, eletrificar caminhões não é mais uma questão de “se”, mas de “quando”.
VEJA MAIS:
- Cabine Volvo Globetrotter XL completa 30 anos; relembre a história
- MAN TGX roda mais de 3,2 milhões de km e vence competição
- Nova geração Scania surge na China e pode chegar à Europa
Tecnologias prontas para uso em caminhões elétricos
Nesse sentido, o professor da Universidade de Tecnologia de Chalmers, na Suécia, Anders Grauers, e referência mundial em veículos elétricos e infraestrutura de carregamento, é categórico.
“A eletrificação de caminhões não enfrenta mais obstáculos técnicos reais”, afirma em entrevista à imprensa europeia.
Segundo o pesquisador, existem diferentes soluções viáveis. Ou seja, caminhões elétricos a bateria com carregamento estacionário, veículos movidos a hidrogênio e até sistemas rodoviários elétricos.
“Vinte anos atrás, dizíamos que era impossível. Porém, hoje temos duas ou três soluções que funcionam. Basta escolher a mais adequada para cada caso”, explica.
Marcas como Volvo Trucks e MAN Truck & Bus já produzem caminhões elétricos em larga escala. Até a Tesla mantém o Semi no mercado, apesar das controvérsias em torno do modelo.
Ceticismo ainda existe, mas é mais cultural do que técnico
Mesmo com a maturidade tecnológica, muitos operadores logísticos continuam inseguros. Para Grauers, isso acontece porque ainda existe a expectativa de que a transição seja extremamente rápida.
“Queremos mudanças imediatas. Mas grandes transições tecnológicas levam tempo”, alerta o especialista. Ele defende ainda ações práticas. Uma delas é disseminar conhecimento. Do mesmo modo, realizar demonstrações em escala e criar políticas públicas voltadas à eletrificação do transporte pesado.

Além disso, ele reforça que a tecnologia funciona. “Trabalhei com fabricantes, operadores de frotas e empresas de recarga em projetos reais. Eles estão operando bem. Agora precisamos escalar agressivamente”, diz o professor levando em conta a realidade da Europa.
Baterias: peso e custo são os grandes desafios
Além do custo econômico, o peso das baterias é um fator que limita a eletrificação em caminhões. “Se fosse apenas uma questão de preço, as baterias atuais já atenderiam um turno completo com lucro”, afirma Grauers.
Todavia, o problema está no equilíbrio entre capacidade, peso e vida útil. Baterias menores reduzem custos, mas diminuem a durabilidade. Por outro lado, aumentar em 20% ou 25% o tamanho da bateria pode ser vantajoso quando o peso não compromete a carga útil.
Nem todos os caminhões exigem grandes autonomias. “Muitos rodam apenas 300 quilômetros por dia em uma realidade como a da Europa. Neste caso, baterias compactas são totalmente viáveis”, completa o especialista.
Infraestrutura de carregamento será determinante
O Custo Total de Propriedade (TCO) é o principal fator que orienta empresas a investir em caminhões elétricos. Assim, nesse cálculo, a estratégia de carregamento é crucial.
Grauers explica que a maioria das frotas consegue operar com carregamento diário nas bases, complementado por estações públicas em situações excepcionais. No entanto, no transporte de longa distância, a realidade é mais complexa.
“Entre 40% e 50% da energia consumida diariamente precisará ser recarregada em infraestrutura pública. Mas, para viabilizar o investimento, o preço do carregamento público deverá cair pela metade”, diz o pesquisador sueco.
Caminhões elétricos estão mais próximos da realidade
A eletrificação do transporte pesado é um dos pilares para atingir as metas globais de descarbonização. Embora ainda haja desafios relacionados a custos, infraestrutura e adaptação operacional, os especialistas concordam que a tecnologia já está disponível e pronta para ser usada em larga escala.
O próximo passo envolve decisões políticas e econômicas. Mas a barreira técnica ficou para trás. E isso representa um avanço histórico para o setor.