O mercado brasileiro de ônibus mostrou força no início de 2025, mas já apresenta sinais de retração no segundo semestre. Segundo o head de vendas de ônibus da Volvo no Brasil, Paulo Arabian, o segmento sofre um atraso médio de 90 dias entre vendas e emplacamentos, reflexo do ciclo de produção de chassis e carrocerias. “Esse delay distorce a leitura estatística. Quando olhamos os licenciamentos de agosto e setembro, enxergamos reflexos de negociações feitas no primeiro trimestre”, explica.
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No entanto, a desaceleração já é perceptível. A combinação de Selic elevada e juros na casa de 20% ao ano comprometeu investimentos. Sobretudo em veículos acima de 16 toneladas, onde a Volvo concentra seu portfólio. Além disso, o encarecimento do crédito e o peso do IOF dificultam a renovação de frotas, especialmente no segmento de turismo, que trabalha com ônibus de alto valor agregado, acima de R$ 2 milhões por unidade.
Turismo perde fôlego com concorrência do avião

O setor de turismo, que vinha crescendo de forma acelerada após a pandemia, começa a sentir os efeitos da conjuntura. Arabian destaca que os grandes operadores, historicamente responsáveis por cerca de 60% das compras, chegaram a 70% do mercado em 2025. Todavia, até eles reduziram o ritmo de renovação, afim de preservar o caixa diante da instabilidade econômica.
Outro ponto sensível vem da concorrência do transporte aéreo. A queda do dólar, combinada à redução no preço do querosene, diminuiu tarifas. Portanto, atraiu novamente passageiros para os aviões. “Nos meses de agosto e setembro já vimos dois ciclos de redução de preços nas passagens aéreas. Isso naturalmente rouba parte da demanda do ônibus rodoviário”, diz.
Projeções para 2026: haverá recuperação, mas depois
Para 2026, a Volvo trabalha com dois cenários distintos. Arabian acredita que o primeiro semestre será de um mercado repetindo o patamar atual, sem crescimento significativo. Entretanto, a expectativa é de melhora no segundo semestre, caso o Banco Central reduza os juros a partir de março ou abril. “O reflexo do alívio monetário só aparece dois trimestres depois. Por isso, o segundo semestre pode trazer um repique positivo”, projeta.
Além disso, o ano eleitoral pode aquecer o segmento urbano, já que prefeituras tendem a acelerar renovações de frota por força de contratos e agendas políticas. Nesse contexto, a Volvo aposta em novas oportunidades tanto para modelos a diesel quanto para os elétricos.
Goiânia estreia o primeiro biarticulado elétrico do mundo
O grande destaque de 2025 da Volvo será a estreia global do primeiro biarticulado elétrico do mundo, que entra em operação em Goiânia ainda este ano. Produzido em Curitiba, o modelo reforça o protagonismo da Volvo na transição energética.
“É um marco. O biarticulado elétrico nasce no Brasil, na nossa planta em Curitiba, que se torna centro global de referência para toda a linha de elétricos da marca”, destaca Arabian. A unidade brasileira é a única do grupo Volvo dedicada a produzir veículos dessa categoria, exportando para América Latina, África, Europa e até América do Norte.

No total, serão 21 ônibus elétricos entregues para Goiânia nesta fase inicial, incluindo cinco biarticulados. A cidade firmou compromisso de descarbonização e já prevê novas aquisições ao longo dos próximos três anos. “É infinitamente mais barato que metrô ou VLT e muito mais viável para transporte de massa”, acrescenta o executivo.
Desafios da infraestrutura e custos ainda elevados
Apesar do avanço tecnológico, Arabian reconhece que a infraestrutura de recarga ainda é o maior obstáculo para ampliar a escala da eletromobilidade no Brasil. Muitos municípios não dialogaram previamente com distribuidoras de energia, o que atrasou projetos. “O ônibus elétrico chega a custar três vezes mais que um diesel. Sem subsídios ou políticas claras, o operador não consegue arcar sozinho”, explica.
Todavia, há sinais de evolução. Capitais como Curitiba, Porto Alegre, Belém e Cascavel já operam com frotas elétricas. Além disso, a tendência é de crescimento a partir de 2026, quando projetos de médio e longo prazo para alta tensão começarem a sair do papel.
Volvo amplia papel estratégico do Brasil
O movimento reforça a importância da fábrica de Curitiba como centro global da Volvo para ônibus elétricos pesados. Além do pioneirismo no biarticulado, lançado ainda em 2012 no País, a marca se consolida como provedora de soluções de transporte sustentável para mercados emergentes e desenvolvidos.
Mas Arabian lembra que a jornada da eletromobilidade é longa, mas irreversível. “O biarticulado elétrico é só o começo. O Brasil se coloca como protagonista global na descarbonização do transporte coletivo. E a Volvo será um dos motores dessa transformação”, conclui.