A Librelato vive um novo momento em sua história. Sob a liderança de Simone Martins, a empresa deixou de ser apenas fabricante de implementos rodoviários para se consolidar em outros segmentos. Nesse sentido, a empresa criou uma divisão de autopeças, vem investindo em aquisições estratégicas e acaba de inaugurar em Guarulhos, na Grande São Paulo, um complexo com fábrica e concessionária, bom como uma loja conceito.
Como resultado, a Librelato marca a transição de empresa familiar para se tornar uma operação mais bem estruturada. Segundo a companhia, embora não tenha capital aberto, seu processo de governança é semelhante ao de empresas com papéis negociados no mercado.
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Vale lembrar que o momento econômico é de instabilidade. Embora a pandemia tenha evidenciado a importância do transporte rodoviário, questões como juros altos, pressão nas margens de lucro e mudanças na legislação comprometem a expansão dos negócios. Ainda assim, a Librelato mantém crescimento consistente, investimentos em novas tecnologia e aposta na proximidade com o cliente final.

Em entrevista ao Estradão, Simone Martins fala sobre o futuro da empresa e os movimentos do mercado de implementos, bem como os novos hábitos dos clientes. Além disso, destaca a importância de manter a resiliência para atravessar ciclos econômicos difíceis.
Loja conceito em São Paulo
A Librelato apostou no segmento de autopeças e acaba de inaugurar um complexo em Guarulhos. O que motivou esse movimento?
Construímos uma vertical de autopeças sólida, com aquisições e fusões estratégicas para reforçar nosso ecossistema de abastecimento. Em Guarulhos, unimos fábrica, loja conceito e atendimento direto ao cliente em um único espaço. É nossa primeira experiência nesse formato, com venda de peças, produção CKD e entrega de implementos. Essa estrutura permite abastecer todo o Sudeste com mais eficiência. Do mesmo modo, cria um modelo que pode ser replicado em outras regiões.
Então essa experiência visa a expansão para outras partes do País?
Sim. Avaliamos a possibilidade de expandir o modelo. Sobretudo em grandes capitais e polos de transporte. Cada local tem uma demanda diferente, e podemos adaptar o portfólio, seja de implementos pesados, baús leves ou cargas fechadas. Também vamos ampliar a rede de oficinas para pontos estratégicos de São Paulo para oferecer suporte tanto de manutenção quanto para clientes com produtos em período de garantia.
Quarto eixo muda o mix do mercado
Como a sra. avalia o impacto do avanço do quarto eixo e do atual cenário macroeconômico?
O quarto eixo veio para ficar. Esse sistema alterou o mix do mercado, reduzindo a procura por alguns tipos de produto e aumentando a participação do segmento de cargas fechadas. Historicamente, esse setor representava 10% das vendas. Agora, chega a quase 20% e, em agosto, praticamente empatou com o de basculantes e graneleiros. Isso comprova a capacidade do setor se ajustar rapidamente às novas regras e à força do agronegócio.

Nesse sentido, quais são as principais demandas dos clientes de implementos?
Em momentos de juros altos e margens reduzidas, o cliente prioriza preço. Porém, atributos como durabilidade, valor de revenda e customização continuam sendo prioridade. Muitos querem implementos adaptados, para otimizar fretes de ida e volta. Outro ponto importante é a telemetria, que contribui para a gestão de pneus, peso da carga e dirigibilidade. O cliente já percebe a melhora da eficiência gerada por essa ferramenta. Assim, a busca por soluções de telemetria começa a crescer.
É possível afirmar que essa tecnologia já impacta a decisão de compra, como ocorre com caminhões?Sim, cada vez mais. Plataformas de telemetria ajudam a acompanhar desempenho do implemento, consumo, desgaste de pneus e até o estilo de condução do motorista. Isso gera economia para o transportador e valoriza nosso produto. Estamos investindo para oferecer essas soluções e fidelizar o cliente, com receita recorrente em serviços.
Locação de implementos como alternativa
Como é o mercado de locação de implementos?
A locação ganhou força em 2022 e 2023, quando muitas transportadoras precisavam garantir contratos sem necessariamente dispor de capital para compra imediata. Em 2024 e 2025, percebemos uma certa desaceleração, porque as frotas ainda são novas. Mas a locação continua sendo uma alternativa relevante, principalmente em operações como mineração. Acredito que esse modelo veio para ficar e deve evoluir nos próximos anos.

A Librelato estuda ter sua própria locadora?
Não. Não faz sentido a gente concorrer com os nossos clientes.
Sustentabilidade
Questões ligadas à sustentabilidade influenciam o desenvolvimento dos produtos?
Trabalhamos com matérias-primas 100% recicláveis e estudamos constantemente soluções como eixos ativos e painéis solares para aumentar a eficiência energética. Muitas dessas tecnologias ainda não têm escala por causa do custo alto. Mas participamos de projetos financiados e de pesquisas que buscam tornar essas soluções viáveis. O transporte precisa de inovação sustentável e estamos investindo nisso.
Como a Librelato faz para acompanhar a dinâmica da demanda?
Estar próximo do cliente é essencial. O segmento de carga fechada, por exemplo, cresceu muito mais rápido do que se imaginava. Isso mostra como o mercado pode mudar em poucos meses. Nossa estratégia é ouvir o cliente, entender suas necessidades e investir de forma antecipada. Por isso, ampliamos tanto a produção e apostamos no consórcio, que virou uma alternativa importante de financiamento.
Investimento é a chave
Quais são as prioridades da Librelato para atravessar períodos de instabilidade?
A resiliência é essencial. Mesmo em cenário de margens apertadas, seguimos investindo em processos, competitividade e capacitação dos colaboradores. Mantemos o conhecimento dentro de casa e evitamos altos e baixos drásticos. Essa postura conservadora garante que possamos cumprir compromissos, inovar e estar preparados para quando o mercado voltar a acelerar.