A partir de 1º de agosto, a mistura obrigatória de biodiesel na composição do diesel vendido nos postos do Brasil passará de 14% para 15% (B15). A decisão, anunciada pelo Conselho Nacional de Política Energética (CNPE), também elevou o percentual de etanol anidro na gasolina de 27% para 30% (E30).
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Conforme anunciado pelo Governo Federal, a medida faz parte de uma estratégia para reduzir a dependência de combustíveis fósseis, ampliar o uso de renováveis e diminuir a necessidade de importações, sobretudo em um cenário internacional instável.
Segundo especialistas, o aumento de 1 ponto percentual de biodiesel na mistura com diesel deve ter impacto financeiro moderado. “Estimamos que haverá uma elevação em torno de R$ 0,01 a R$ 0,02 por litro de diesel”, afirma Vitor Sabag, especialista em combustíveis do Gasola, aplicativo de gestão de abastecimento para frotistas. “Como o biodiesel é mais caro que o diesel fóssil, o custo tende a subir, mas de forma discreta. Ainda assim, o transporte rodoviário, altamente sensível a variações de preço, pode sentir efeitos indiretos”, explica.
Mais polêmica do que o preço é a questão da compatibilidade mecânica com o novo teor de biodiesel. Sabag aponta que há uma “guerra de narrativas” entre governo, montadoras e transportadoras. “O governo se apoia em estudos que garantem que os motores suportam o B15. Já muitas empresas e caminhoneiros alegam que há aumento de corrosão e problemas nos sistemas de injeção, principalmente em caminhões mais antigos.”
Caminhões modernos suportam biodiesel
Atualmente, os caminhões produzidos no Brasil suportam o diesel B15. Dessa forma, os frotistas com veículos modernos tendem a se adaptar melhor a mudança no combustível, segundo Sabag.
No entanto, uma parte significativa da frota nacional é composta por caminhões mais antigos, fabricados antes da introdução do biodiesel no Brasil, no início dos anos 2000. De acordo com Sabag, esses veículos podem apresentar dificuldades técnicas com a nova mistura e exigir mais manutenção.
Entre os problemas mais comuns do uso de biodiesel em caminhões antigos estão a corrosão de componentes metálicos, a obstrução dos filtros de combustível e o desgaste prematuro de mangueiras e vedações fabricadas com materiais incompatíveis com o biocombustível.
Menos dependência externa e impulso à produção nacional
Além da redução das emissões de gases do efeito estufa, o governo busca com a medida diminuir a exposição do País ao mercado internacional de petróleo. Segundo o especialista da Gasola, o Brasil importa grandes volumes de diesel, principalmente da Rússia e dos Estados Unidos. O biodiesel, por outro lado, é produzido localmente. “Aumentar a mistura significa importar menos diesel pronto e depender menos de crises internacionais, como as do Oriente Médio ou da Europa”, explica.
A elevação do percentual faz parte de um cronograma gradual, com meta de alcançar 20% de biodiesel na mistura até 2030. Para Sabag, a tendência é irreversível, apesar das dúvidas técnicas. “Naturalmente, a gente vai caminhar para um acréscimo cada vez maior do biodiesel. O Brasil tem vocação em biocombustíveis, e isso deve ser aproveitado”, afirma.
Ainda há, no entanto, um dilema a ser resolvido: “Os motores estão preparados para isso?”, questiona o especialista. A resposta virá com o tempo e com o desempenho das frotas na prática.