Quando se fala em desempenho de veículos comerciais pesados, a transmissão sempre foi peça-chave. Assim, atualmente o que dita a performance final de um caminhão ou ônibus não está apenas no hardware robusto. Mas também no software embarcado. E, principalmente, na calibração personalizada que ele recebe antes de sair da linha de produção. Na ZF, referência global em tecnologia para sistemas de transmissão, a inteligência digital aplicada às caixas automatizadas vem ganhando um papel cada vez mais estratégico — e decisivo.
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Personalização calibrada: o DNA de cada cliente
Muito além de oferecer transmissões como a consagrada TraXon, a ZF trabalha diretamente com as montadoras. Assim, a empresa define, durante o desenvolvimento dos veículos, o comportamento da transmissão de acordo com três fatores principais. Ou seja, aplicação, demanda do cliente e características construtivas do caminhão.
“A tecnologia já existe, mas o que diferencia um produto do outro é a calibração feita para atender as particularidades de cada cliente e aplicação”, explica o gerente de engenharia de aplicação e calibração da ZF, Vinicius Rabello. Segundo ele, cada montadora tem seu próprio “DNA de dirigibilidade”. Portanto, solicita um software customizado para a transmissão, buscando otimizar torque, economia de combustível e performance de acordo com as prioridades de seus veículos.
Da cana ao rodoviário

Para aplicações severas, como na colheita de cana — onde caminhões chegam a carregar muitas toneladas —, o foco é garantir torque constante e robustez em terrenos irregulares. Já no transporte rodoviário de longa distância, a prioridade recai sobre a eficiência energética e o conforto do motorista na direção.
Vice-presidente da ZF, Silvio Furtado, explica que a transmissão TraXon oferece recursos como o EcoRoll (que coloca o câmbio em neutro automaticamente em descidas para economizar combustível) e o PreVision GPS, que antecipa mudanças de marchas de acordo com a topografia da rota. Porém, essas funcionalidades podem ser ajustadas em nível de detalhe — como o raio de atuação do PreVision, que pode prever até 2,5 km à frente, dependendo da solicitação do cliente.
“Às vezes, o próprio cliente final muda o uso do caminhão. E a montadora nos aciona para ajustar a calibração, via pós-venda, para a nova aplicação”, diz Furtado.
Tendências: integração total e atualizações remotas
De acordo com o diretor de engenharia da ZF, Javier Pantoja, a próxima onda tecnológica no setor será marcada por atualizações remotas via nuvem. Em outras palavras, a TraXon 2, que chega ao mercado em 2026, traz maior integração entre sistemas do veículo (como freios e motor) e softwares ainda mais inteligentes. Ou seja, capazes de interpretar e reagir a dados em tempo real.
Essa evolução também vem acompanhada de investimentos em segurança cibernética. Dessa forma, garantindo que atualizações e diagnósticos sejam feitos de forma segura. Protegendo o sistema eletrônico embarcado dos veículos.
“Se antes o motor era o coração do veículo, agora a transmissão ocupa esse espaço junto. Ela se tornou um cérebro eletrônico capaz de conversar com os outros componentes e tomar decisões instantâneas, buscando sempre a melhor performance e segurança”, conclui o executivo.