No setor de transporte, o “last mile” (ou a “última milha) é a etapa final da cadeia de entrega. Ou seja, quando o produto deixa o centro de distribuição e vai até o destino final, a casa do cliente. É a parte mais visível da logística do ponto de vista do consumidor e também uma das mais onerosas e complicadas. Envolve tráfego urbano, entregas individualizadas e muitas variáveis imprevisíveis.
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Last mile é uma expressão antiga do setor de telecomunicações dos Estados Unidos. Lá, a “última milha” representava o trecho final dos cabos que ligava a rede principal à residência do assinante. O setor de logística adotou o termo porque a fase final da entrega geralmente é a mais cara, a mais complexa e a que mais impacta a experiência do cliente — assim como acontecia com as conexões de telefonia no passado.
Além disso, o termo last mile é uma metáfora e não uma referência literal a uma milha (1,6 quilômetro). Mesmo que uma van percorra 30 ou 100 quilômetros num dia, ela faz muitas entregas separadas. Assim, cada entrega individual representa uma “milha final” do pacote até o cliente.
"O planejamento da última milha de uma entrega é o mais desafiador", contou Bill Nordlund, Diretor de Produtos para Frotas da Amazon Logistics para União Europeia, durante uma apresentação sobre boas práticas em operações de last mile no Geotab Connect 2025, em Orlando, nos Estados Unidos. "Entregamos um milhão de pacotes por dia na Europa. Cada pacote tem um planejamento individual."
Last mile é o motor do comércio eletrônico
A Amazon é uma das pioneiras em operações last mile, sobretudo pelo nível de automação, escala e inovação logística que implementou nesse segmento. Essa metodologia aproxima os estoques de mercadorias dos clientes, que podem encomendar um item e receber no dia seguinte. A empresa também tem esse tipo de operação no Brasil. Outro exemplo nesse campo é o Mercado Livre.

“Analisando dados de entregas e pedidos, descobrimos que, se oferecêssemos entrega em um dia, os clientes fariam mais pedidos em vez de ir a lojas físicas”, contou Nordlund, que gerencia os Delivery Service Partners (DSPs), entregadores que realizam os serviços de entrega de última milha da Amazon na Europa.
Operação exige tecnologia
De acordo com o gerente da Amazon Logistics, cada DSP na Europa pode realizar mais de 200 entregas por dia. “Usamos dados de telemetria para localizar os estoques mais próximos dos clientes. Com análise de rota, nosso algoritmo avalia a capacidade da van, o tempo necessário para a entrega com base em dados históricos de telemetria e define o melhor caminho para o modelo específico.”
No entanto, a cadeia logística do last mile é sensível. Um empecilho no caminho, como uma colisão da van de entrega ou algum problema mecânico, pode comprometer o ritmo das entregas. Para evitar esses problemas, Nordlund revelou que a Amazon usa ferramentas especiais e dados de telemetria para antecipar eventuais problemas.
“Nossas vans têm câmeras embarcadas e sensores de colisão que alertam os motoristas sobre a proximidade de outros veículos ou objetos. Usamos um sistema que avisa o motorista se a porta de carga estiver aberta. Além disso, temos um rigoroso programa de inspeção de manutenção, com checklists digitais para identificar defeitos no veículo. Agimos antes do problema ocorrer e isso garante o prazo de entrega”, explicou o executivo.
Operação de última milha é ideal para veículos elétricos
Uma van de last mile pode rodar mais de 20 horas por dia. De acordo com o diretor da Amazon Logistics, a empresa recomenda aos DSPs desligarem os veículos em todas as paradas de entrega, por segurança e para economizar combustível. “Os veículos da última milha são usados de forma muito mais intensa. Eles param até 200 vezes por dia. Os fabricantes têm trabalhado conosco para projetar veículos que aguentem esse ritmo”, relatou o especialista.

Portanto, esse tipo de operação exige um veículo robusto. O motor de arranque, por exemplo, trabalha intensamente, já que a van dá a partida e desliga o motor mais de 6 mil vezes por mês. Isso força a manutenção constante, o que tem levado os operadores de last mile a migrarem para modelos com motorização elétrica, que exigem menos cuidados. Além disso, outro motivo para essa mudança é o apelo pela zero emissão.
Trecho mais crítico da conexão
Ainda de acordo com o diretor da Amazon Logistics, um dos desafios do last mile é garantir que o veículo esteja sempre na rota certa da entrega, especialmente se ele for elétrico. “Se colocarmos uma van elétrica em uma rota que exija mais quilometragem do que sua autonomia suporta, ela pode não conseguir concluir o trabalho. Isso afeta a experiência do cliente e a eficiência do DSP", contou.
“Temos dezenas de milhares de vans elétricas nas estradas hoje, e isso continuará crescendo. Medimos o estado de carga, a saúde da bateria de cada unidade, e usamos esses dados para informar se o veículo pode fazer a rota antes mesmo de sair do depósito. Também desenvolvemos algoritmos de atribuição para garantir que as vans certas sejam designadas para as rotas certas. Isso minimiza riscos e aumenta a eficiência”, concluiu Nordlund.
Hoje, a última milha continua sendo o trecho mais crítico da conexão — só que, agora, entre o pacote e o cliente. Assim como no setor de telecomunicações, onde a “last mile” determinava a qualidade da experiência do assinante, na logística ela define o sucesso da entrega.