Na data em que se comemora o Dia do Motorista, cabe a reflexão a respeito do que a profissão poderá enfrentar daqui para frente, considerando a evolução dos veículos e, com ela, as transformações no ambiente de transporte.
Na busca por mais eficiência e segurança nas transferências de carga, o setor automotivo inova em soluções tecnológicas. Em pouco mais uma década, o caminhão, como ainda se conhece hoje, ficou mais econômico e menos poluente. Carregado de eletrônica se tornou amigável ao motorista. Os modelos mais novos, dentre diversos recursos, trocam sozinhos as marchas na hora certa, leem e memorizam a topografia da estrada, alertam os obstáculos à frente e freiam se necessário independente da ação do condutor. E não para por aí.
Os fabricantes já pavimentam caminho em direção ao caminhão autônomo, capaz de seguir viagem sem que o ser humano precise estar atrás do volante. É praticamente inevitável o questionamento a respeito do futuro do motorista em um cenário no qual ele aos poucos deixa de ter papel tão operacional na cabine do veículo.
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Especialistas do setor apontam desafios imensos que acompanham passo a passo os desenvolvimentos da indústria. O motorista por um lado, cada vez menos solicitado na prática pura e simples de guiar. As fabricantes por outro, geradora de inovações e, assim, arquitetas de um novo ambiente de trabalho, e o governo, responsável pelas regulamentações e políticas educacionais à infraestrutura.
“A tecnologia vem reduzindo o risco para o caminheiro e para a carga. A vida a bordo do veículo tem mudado significativamente. Com mais facilidade para dirigir, o motorista chega ao fim do dia com menos fadiga”, observa Marcos Andrade, gerente de produtos de caminhões da Mercedes-Benz. “Sem tanta necessidade de intervir na condução surgem outras funções para desempenhar, como a de um analista de logística, por exemplo.”
Não só Andrade, mas também a indústria de caminhão não enxerga o fim do motorista, mesmo no futuro, para quando se prepara a direção autônoma. Mas vislumbra um novo profissional. “Fica no passado a imagem daquele motorista de braço direito mais musculoso de tanto trabalho na alavanca de câmbio, as exigências agora são mais intelectuais”, afirma o gerente da Mercedes-Benz. “O caminhoneiro será mais um gestor de transporte, o representante comercial de uma empresa, ou da própria, presente na cabine do caminhão.”
Andrade faz uma analogia do caminhoneiro com o piloto de avião, em que atualização e capacitação são fundamentais para o exercício da profissão. Lembra da realidade de aspectos sociais e econômicos revelados, por exemplo, na idade média da frota de caminhões circulante no Brasil, em torno de 18 anos. Mas também destaca o alto valor de uma composição veicular que também roda pelo país, podendo ultrapassar os R$ 2 milhões sem contar a carga. “A evolução dos sistemas de assistência para o motorista facilita a sua vida, mas exigem cada vez qualificação”, resume.
A conectividade é outro campo que moldará novas atribuições do motorista. Para além da exigência de uma Carteira de Habilitação, falta pouco para o motorista deixar de ser apenas um agente condutor da logística, para de fato assumir posto de execução. Andrade acredita na descentralização do transporte. “Se hoje o comando parte de uma central logística, como uma transportadora, amanhã o negócio poderá estar a cargo do motorista que busca fretes, agenda entregas e embarques e interage com todos os atores do setor.”