As mulheres e o mundo automotivo nem sempre coexistiram tão bem quanto nos últimos anos. Isso porque a sociedade majoritariamente patriarcal fazia deste ambiente extremamente masculino. Mas o mundo evoluiu. E as mulheres já assumem posições de destaque em muitos postos antes ocupados apenas por homens. E mostram o porquê são tão necessárias.
Para celebrar esse Dia Internacional da Mulher, Estradão traz alguns expoentes femininos do setor transportes que inspiram pessoas para uma sociedade mais justa. Contudo, mais que isso, essas mulheres estão mudando a cara desse setor com suas ações. Assim, fortalecem a imagem de um público que, segundo a falácia, é considerado o sexo frágil.
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Exemplos na indústria
Gerente sênior de markenting da Mercedes-Benz do Brasil, Ebru Semizer nasceu na Turquia. E entrou na montadora alemã há 17 anos. Destes, atua há 13 no Brasil. Uma situação que sempre incomodou Semizer em todos os mercados de atuação da Mercedes-Benz é o setor de transporte ser predominantemente masculino. Mas, segundo a executiva, há potencial para que cada vez mais mulheres entrem no ramo. Seja nas fábricas, nas transportadoras, em cargos administrativos, bem como em postos de chefia. Ou mesmo ao volante de caminhões ou ônibus.
Assim, Semizer se uniu a um grupo de mulheres do setor para criar o Voz Delas. Este movimento visa conscientizar a sociedade sobre a importância da presença feminina no transporte. Nesse sentido, a premissa é mobilizar empresas e entidades. E não só aquelas ligadas exclusivamente ao setor de transportes. Mas unir esforços para melhorar as condições de infraestrutura para as mulheres. Seja nos postos de parada, bem como nos terminais logísticos.
Frutos do movimento
Segundo Semizer antes de iniciar o movimento, por meio de um levantamento, descobriu que havia potencial no mercado para cada vez mais mulheres ingressarem na atividade de motoristas. Porém, esbarrava em uma situação. O setor não é preparado para receber o público feminino. O levantamento mostrou que poucos locais tinham banheiro para elas, com chuveiro quente e estrutura para receber motoristas mulheres e esposas de caminhoneiros. Estas, conhecidas como cristais.
Dessa forma, como primeiro passo, a Mercedes-Benz reformou um banheiro do posto Abobrão Rio Doce em 2020. O estabelecimento fica em Cachoeira Alta (GO) e é um movimentado ponto de parada da BR-364, no km 113. A rodovia é um importante corredor de escoamento da produção de grãos do Norte e do Centro-Oeste para outras regiões.
Seja como for, o espaço recebeu piso, pias, boxes de chuveiro, espelhos e cadeiras. Até plantas foram colocadas para tornar o ambiente mais agradável. A Mercedes-Benz ainda reformou o banheiro masculino, assim como construiu uma lavanderia para facilitar a vida dos motoristas profissionais que passam por ali.
Entretanto, apesar do bom exemplo, muita coisa precisa evoluir. Por essa razão, o movimento Voz Delas mantém um site para que mulheres sugiram melhorias. Na página, elas podem acompanhar palestras. Da mesma forma, a página serve de contato para empresas como embarcadores que queiram realizar parcerias com a iniciativa.
Actros fruto do Voz Delas
Seja como for, outra importante novidade do Voz Delas é o Actros Estrela Delas. O caminhão foi desenvolvido com base em informações que as mulheres levaram à Mercedes-Benz por meio do site do movimento.
Por isso, o modelo, que ainda é um protótipo, traz itens considerados essenciais pelas mulheres. Como cozinha, banheiro e camarim a bordo. Além de diversos porta-objetos para que as mulheres possam levar seus pertences. E manter a "casa" em ordem.
O Actros Estrela Delas ainda não está à venda. Mas, quando for comercializado, deverá custar em torno de R$ 1,3 milhão. Portanto, só dono de frota poderá adquirir esse caminhão. Por ora, a agenda será rodar pelo País e servir de vitrine para o Voz Delas.
Voz Delas se estende ao mercado de ônibus
No Dia Internacional da Mulher, a Mercedes-Benz anunciou que vai expandir o movimento Voz Delas para o mercado de ônibus. A ideia é aplicar neste setor o que foi feito para o segmento de caminhões. Ou seja, a montadora fará as ações similares ao que fez para o público feminino no setor de transporte de cargas.
A princípio fará um mapeamento para entender o tamanho do mercado para mulheres motoristas de ônibus, quais as dificuldades que enfrentam. Bem como promover ações voltadas à saúde e o bem-estar das profissionais. Seja como for, há também a intenção de criar uma campanha contra o assédio no transporte público.
Para o futuro, a ideia da Mercedes-Benz é fazer parcerias com encarroçadoras para desenvolver um ônibus perfeito para as necessidades de motoristas mulheres.
Mulheres na betoneira
Maria Zeneide Pereira da Silva é motorista de betoneira da concreteira Engemix. Porém, sua trajetória no universo dos pesados é antiga. Ainda jovem, mostrou apreço pelos brutos. E tornou como ofício ser instrutora em uma autoescola no estado do Maranhão. Ao se mudar para São Paulo, Maria realizou o sonho de trabalhar com caminhão.
"Ser motorista de betoneira foi desafiador no começo. Isso porque eu precisei absorver muito conhecimento. Além disso, não conhecia a cidade de São Paulo. Então, tudo foi novidade. Mas agora vejo como uma oportunidade única. Estou gostando muito", diz a motorista.
A chance de transformar a trajetória profissional surgiu para Maria quando ela viu um anúncio nas redes sociais em 2022 sobre inscrições gratuitas para uma capacitação da Escola de Concreto da Votorantim Cimentos. Curso foi oferecido em parceria com o Sest/Senat. A oferta era exclusivamente para as mulheres. Como parte do Programa Evoluir Mulheres, ela desenvolveu habilidades técnicas para operar um caminhão betoneira. Assim como recebeu capacitação para a gestão operacional. Ou seja, além da pilotagem, Silva aprendeu a preparar e misturar o concreto.
Jornada de inclusão
Além da contratação de profissional do sexo feminino para operar caminhão betoneira, o Grupo Votorantim Cimentos oferece outras iniciativas para possibilitar a inclusão feminina e a inserção em cargos de liderança. Como a criação, em 2022, de uma mentoria para mulheres negras. Na qual as participantes recebem orientação sobre carreira e empoderamento por mulheres que já ocupam posições de liderança.
Exemplos no automobilismo esportivo
A piloto Bia Figueiredo estreia na próxima semana a temporada 2023 da Copa Truck pela ASG Motorsport. É a segunda a atuar na competição. Além dela, há a Débora Rodrigues, que disputa pela equipe R9 Competições. Portanto, ainda são pouquíssimas mulheres.
Entretanto, a trajetória de Bia é longa. A pilota brasileira já passou pela Fórmula Indy e coleciona experiências e títulos. Mãe de dois filhos, Figueiredo retornou às pistas menos de dois meses depois de dar à luz ao segundo bebê. Empática às questões femininas dentro do universo automotivo, Bia preside a Comissão Feminina do Automobilismo (CFA). Além disso, é coordenadora do programa Girls on Track e Mulheres na Fórmula 1.
Ou seja, em todos esses movimentos Bia visa atrair mulheres, pilotos, mecânicas. Assim como engenheiras para o automobilismo. Além disso, visa apoiar as poucas mulheres que atuam nesse segmento. "São muitas profissionais interessadas, mas não sabem por onde começar. E justamente é esse o trabalho da Comissão. Ou seja, dar acesso às mulheres e criar redes facilitadoras", resume.
Forte apoio na Copa Truck
Uma das colaboradoras nessa tarefa é Rachel Loh, amiga de Bia Figueiredo. Loh é a chefe de engenharia da equipe ASG Motorsport e traz no currículo experiência de fazer inveja a muitos homens. Por exemplo, Loh foi selecionada entre centenas de inscritos no mundo todo para a Confederação Brasileira de Automobilismo (CBA) na equipe técnica do GP de Cingapura de Fórmula 1 de 2022. A engenheira ainda tem passagem pela Stock Car.
Segundo a engenheira, o universo do automobilismo ainda é altamente masculino. "Prova disso é que tudo que é feito por uma mulher, tem muito mais pessoas observando. Por essa razão, percebi que a minha missão não é só ter sucesso na carreira. Então, junto com a Bia, busco promover ações que possam trazer o interesse de outras mulheres neste universo", completa.
Com a comissão, já foram desenvolvidas algumas capacitação técnicas, bem como palestras para quem quer se envolver no ramo. Segundo Loh, só no último ano mais de 500 mulheres sinalizaram interesse.
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