Avaliação

Unimog que era do Exército agora encara trilhas com empresário paulista

Avaliamos o Unimog U 100 L de 2001 que pertencia ao Exército Brasileiro e foi arrematado em leilão por um empresário paulista

Andrea Ramos

30 de nov, 2021 · 10 minutos de leitura.

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Unimog deixa a função no exército para ser um aventureiro
Unimog deixa a função no exército para ser um aventureiro
Crédito:Leo Souza/Estadão
Unimog deixa a função no exército para ser um aventureiro

O Unimog é um dos veículos mais longevos do mundo e completa 75 anos. Os primeiros rascunhos do modelo foram feitos em 1945. Porém, a produção em série só começou em 1948. Nesse meio tempo, o caminhão recebeu várias atualizações. Segundo a Mercedes-Benz, o caminhão não é vendido pela empresa no Brasil. Porém, há várias unidades trazidas por importadores. O empresário paulista Paulo Sérgio Ortega Albaracin comprou a dele em um leilão. O caminhão pertencia ao Exército Brasileiro.

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O Unimog U100 L de Albaracin foi feito em 2001 e tem peso bruto total (PBT) de 5,5 toneladas. De acordo com o empresário, o caminhão ficou parado por oito anos antes de ir a leilão, em 2019. Além deste, o colecionador arrematou outros dois, que serão restaurados e vendidos. “A manutenção deles é cara. Mas para o off-road são os melhores que existem. Por isso vou ficar com um”, diz o empresário.


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A unidade que ficou com Albaracin e já foi restaurada, era utilizada no transporte de tropas. Por isso, tem bancos retráteis na carroceria, que foi mantida. Assim como a cabine, com escotilha no teto. De acordo com o empresário, no Exército o Unimog foi pouco usado e tinha apenas 34 mil km rodados. Por isso, praticamente tudo nele é original. Assim, entre as poucas peças que tiveram de ser trocadas estão a bomba injetora de diesel e os pneus.

Fãs de Unimog ajudaram na restauração

Conforme o empresário, a restauração só foi possível graças à ajuda de amigos que também têm Unimog. De acordo com ele, isso permitiu conhecer detalhes técnicos do modelo, como componentes  intercambiáveis de outros veículos. Segundo ele, entre os destaques estão os pneus 14,5/70 R20, da BKT. Ou seja, são maleáveis e ajudam a reduzir os solavancos quando o Unimog passa trilhas severas. Além disso, os do eixo traseiro foram montados no sentido contrário para garantir mais tração.


Além disso, o chassi recebeu o reforço de chapas de ferro. Bem como conta com um gancho G que permite tracionar até 1 tonelada de carga. Segundo Albaracin, enquanto estava no Exército o Unimog também carregava um canhão de 115 mm. Conforme o empresário, que faz trilhas há mais 30 anos, é comum que veículos utilizados em off-road precisem de adaptações para encarar aventuras difíceis. Porém, no Unimog tudo já vem de série. "Isso o torna único", diz.

Por exemplo, há um sistema de engrenagens de eixo exclusivo, chamado de portal. Ou seja, eles se ligam às rodas de modo que o diferencial fique a 60 cm de distância do solo. Além disso, o acionamento do bloqueio é 100% pneumático. Da mesma forma, há freios a disco nas quatro rodas entre os itens de série. Aliás, o sistema de freios tem assistência a ar e óleo que utiliza válvula de quatro vias.


Peças de 608 e Sprinter

Além disso, graças o ângulo de ataque, de 30°, o Unimog pode ultrapassar sem esforço obstáculos que outros modelos não conseguem vencer. No mesmo sentido, colabora o ângulo de saída de 57°. Bem como o sistema pivotante de fixação do chassi, carroceria, cabine, motor e câmbio. Assim, os eixos se adaptam ao relevo do solo. Da mesma forma, a suspensão tem molas helicoidais, que também dão mais flexibilidade ao conjunto.

As dimensões reduzidas do Unimog facilitam as manobras. Por exemplo, o comprimento do U100 L de Albaracin é de apenas 4,930 metros. Para comparação, uma picape Fiat Toro tem 4,915 mm. Por sua vez, o motor Mercedes-Benz turbodiesel OM 602, de 2.9 litros que gera 200 cv de potência e 20 mkgf de torque. Trata-se de um cinco-cilindros em linha. Porém, há apenas um bico de injeção para todos.

Segundo o empresário, esse motor compartilha vários componentes com o Mercedes-Benz 608. Da mesma forma, o câmbio manual de cinco marchas e cinco reduzidas utiliza peças da caixa da Sprinter. Assim, isso reduz os custos de manutenção e facilita a reposição de vários itens. Seja como for, para garantir mais força ele instalou uma tomada de força que funciona como um multiplicador.


Ao volante do Unimog

Nossa experiência ficou completa quando dirigimos o Unimog U100 L de Albaracin. Para isso, fomos até o alto da Serra do Riacho Grande, no ABC paulista. Apesar de a manhã estar ensolarada, havia muitas nuvens e neblina, como é comum na região por causa da proximidade da Serra do Mar. No primeiro contato, estranhei a maneira de trocar de marcha. Mas bastou dar duas pisadas rápidas no pedal de embreagem para fazer as passagens com tranquilidade.

Ou seja, é o mesmo macete utilizado em caminhões com câmbio caixa seca. Ou seja, sem sistema de anéis sincronizados. Após um breve período de adaptação, acelerei um pouco mais o Unimog no trecho de terra. O caminhão, ágil e firme, chega a 60 km/h de modo muito suave. E simplesmente ignorou um trecho com piso acidentado e lama. Afinal, esse é o hábitat do Mercedes-Benz.


Porém, o Unimog não faz bonito apenas no fora-de-estrada. Em vias pavimentadas, o caminhão vai muito bem e responde com vigor ao pedal do acelerador. Assim, pode chegar a 95 km/h. Porém, por causa dos pneus para off-road, o ruído a bordo incomoda. Além disso, a direção é um tanto rígida.

Mais de 70 anos de história

Os primeiros protótipos do Unimog entraram em testes em 1946. O nome do modelo é uma abreviação de Universal-Motor-Gerät. Assim, em uma interpretação livre seria algo como máquina motorizada de aplicação universal ou de múltiplas aplicações. Ou seja, exatamente a proposta do modelo. Afinal, o veículo com tração em todas as rodas surgiu como um misto de trator e caminhão. Inicialmente, aliás, a ideia era utilizá-lo na produção agrícola.


Porém, com o passar do tempo os consumidores perceberam que poderiam utilizar o Unimog para realizar as mais variadas tarefas. O Mercedes-Benz ganhou ainda mais fama em operações como o transporte de madeira e na mineração. Assim como rebocador e trator. Da mesma forma, faz parte da frota de Exércitos de todo o mundo.

É o caso do U100 L arrematado por Albaracin. Porém, nem todos esses veículos são emplacados. Por isso, não há dados oficiais sobre o número de unidades existentes no Brasil. Segundo informações do Denatran, apenas 41 Unimog foram registrados no País desde 2003. Desse total, 14 são da mesma versão do empresário. Portanto, provavelmente também foram adquiridos em leilões do Exército.


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