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A estrada também é das mulheres

Sheila Marchiori conquista espaços e simboliza a força feminina no transporte de carga, universo onde predomina o universo masculino

Décio Costa

08 de mar, 2018 · 6 minutos de leitura.

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Sheila Bellaver
Crédito:Crédito: arquivo pessoal

A menina do interior do Rio Grande do Sul, filha de pai tratorista e de mãe responsável pelas tarefas domésticas, nasceu na lavoura e, durante muitos anos, foi no campo que alimentou o sonho de ganhar as estradas como caminhoneira. Até hoje não sabe explicar o motivo, nunca teve ninguém na família que a pudesse influenciar.

Aos 15 anos, com o casamento e, logo em seguida, o nascimento dos filhos, viu a ideia de levar a vida na boleia se distanciar por alguns momentos. Mas o seriado da televisão Pedro e Bino com a participação da atriz Patrícia Pillar foi o empurrão que a jovem precisava.

Hoje, com 35 anos, Sheila Marchiori, mais conhecida na estrada e nas redes sociais como Sheila Bellaver (nome da transportadora na qual trabalha), não abre mão do sonho que perseverou e conquistou. “Tenho apoio da família. Os filhos já são adultos e se preocupam, claro, vivem dizendo que eu trabalho demais. Mas fazer o quê?”, desconversa. “O emprego é bom e eu amo a profissão.”


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Há oito anos na estrada, o mesmo tempo em que trabalha para a Bellaver Transportes, Sheila cruza o Brasil no comando de uma carreta Scania R480 6x2 com baú frigorífico carregado de frutas e verduras. Frequentemente fica até 40 dias fora de casa, o que multiplica suas saudades, especialmente agora com chegada do quarto filho, há um ano. “A certeza de que ele está sendo cuidado com todo amor pela minha cunhada dá conforto, mas ser empregada também é ter que cumprir metas.”

Embora os longos período longe de casa aumentem a exposição aos perigos da estrada, Sheila arquitetou esquema de viagem no qual previne situações inconvenientes e arriscadas. As paradas são sempre nos mesmos locais, onde há gente conhecida e, pode parecer contraproducente, costuma preferir as noites para “tocar” a carga.

“Todos correm riscos, independentemente do gênero, mas no escuro todo o gato é pardo”, lembra a motorista do ditado popular. “De fora, ninguém sabe quem está na cabine. Depois, as estradas são mais livres, com menos carros e caminhões muito pesados, que não são permitidos de rodar à noite.”


Ainda assim, a motorista já coleciona história indesejáveis, como o recente acidente que sofreu no fim do ano passado, “felizmente apenas com prejuízos materiais”, e uma tentativa de assalto que ficou apenas como um trauma momentâneo graças à fama da caminhoneira. “Carregava carga valiosa, dinheiro na carteira, mais os celulares e a câmera de vídeo”, conta. “Eles chegaram a me render na cabine, mas um deles me reconheceu: ‘a Sheila não’. Devia ser meu seguidor. Chegou a pedir desculpas”, lembra bem-humorada, apesar do susto.

Por onde passa Sheila não deixa de chamar atenção. Além de ser uma bela mulher, a simpatia e o dom da palavra favoreceram dedicação a uma atividade extra na vida da motorista. Seu canal no YouTube já soma mais de 322 mil inscritos, no Facebook tem 220 mil seguidores e no Instagram, conta aberta há poucas semanas, já chega a 15 mil. “Promover marcas já proporciona um bom ganho. Mas preciso deixar claro que não brinco de caminhão, eu trabalho de verdade com ele”, reforça, para não deixar nenhuma dúvida em relação ao que realmente faz para ganhar a vida.


Nas horas descanso, entre uma parada e outra, leva sua rotina como a de qualquer pessoa: faz sua própria comida, lava roupa, paga as contas, vai às compras, faz ginástica na cabine do caminhão e, vaidosa, não adia o cabelereiro. “As unhas nem ligo tanto, mas o cabelo não dá para deixar de lado.”

Preconceito? “Não dá para dizer que nunca sofri. Mas conquistei meu espaço, nunca fui desrespeitada e falo de igual para igual com os caminheiros. Competência e habilidade mostro nas manobras da carreta no pátio quem é que está direção”, resume orgulhosa a respeito da profissão que escolheu.

 


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