O Grupo Risa iniciou a colheita de soja no Piauí. Segundo a empresa, que atua no agronegócio, em 2020 o faturamento ultrapassou a marca de R$ 1 bilhão. Do mesmo modo, com previsão de recorde na safra e o setor em alta, esse número deve ser superado em 2021.
O Estradão acompanhou a abertura da colheita de soja na maior fazenda do Grupo Risa. E entrevistou, com exclusividade, o diretor-presidente da empresa, José Antônio Gorgen, mais conhecido como Zezão.
Atualmente, a Risa atua nos segmentos de agricultura, fertilizantes, máquinas, defensivos, logística e trading. O grupo com sede no Maranhão é um dos maiores produtores de soja e milho do Nordeste.
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Tudo começou em 1991, pelas mãos de Zezão e da mulher, Salete Teresinha, que são gaúchos. O casal adquiriu a Companhia Agrícola do Ribeirão, em Baixa Grande do Ribeiro, no noroeste do Piauí.
No município fica a fazenda de cerca de 20 mil hectares. Além desta, a Risa tem outras quatro propriedades no Piauí e no Maranhão. Portanto, são cerca de 45 mil hectares de plantio. Ou seja, 450 km².
Assim, para 2021 a previsão de colheita é de 161,6 mil toneladas. Logo, trata-se de uma produtividade de 3,6 toneladas por hectare.
O Grupo Risa foi o primeiro produtor do Piauí a plantar a safra atual. E, mesmo com as fortes chuvas que castigaram a região, será o primeiro a colher o grão.
De acordo com Zezão, o intervalo entre o plantio e a colheita da soja varia de 105 e 120 dias. Segundo ele, a cultura do milho é similar. Porém, diz ele, a recente queda na temperatura atrasou o início da colheita das espigas em dez dias.
Risa tem a maior colheitadeira do mundo
Seja como for, a empresa deve quebrar o recorde de volume de soja colhida. Para isso, conta com equipamentos e tecnologias de ponta. São 20 colheitadeiras de grãos Axial-Flow Série 250 Automation, da Case IH, que têm preço e torno de R$ 2 milhões cada.
Essas máquinas contam com 16 sensores para coleta de dados. A partir dessas variáveis, o sistema pode controla nove tipos de funções da colheitadeira de forma automática. Ou seja, sem necessidade de intervenções do operador.
Uma delas trabalhara com a plataformas de corte GTS Flexer XS de 62 pés (18,9 metros). Trata-se da maior máquina do tipo do mundo. Assim, o equipamento pode colher de 10 e 12 hectares por hora. As demais têm 45 pés (13,7 metros).
Além disso, há 50 Mercedes-Benz Actros 2651 traçados, cuja tabela parte de cerca de R$ 831 mil. Os caminhões levam os grãos para o silo e de lá para o porto de São Luís, no Maranhão. Nesse caso, a distância é de mais de 800 km.
A operação é feita com 50 tritrens da Librelato. Durante a colheita, esses implementos carregam, em média, 4 mil toneladas de soja por dia.
Mais produção sem ampliação da área plantada
Segundo Zezão, ao promover a colheita ele busca mostrar o potencial do agronegócio no Nordeste. De acordo com ele, apesar de a chuva na região ser equivalente à metade da registrada no Centro-Oeste, o grão tem a mesma qualidade.
Nesse sentido, Zezão acredita que o agronegócio pode gerar emprego, renda e riqueza nessa parte do País. Ainda de acordo com ele, outra vantagem é a oferta de áreas em locais distantes de zonas de preservação.
Nesse sentido, o empresário diz que o Brasil pode produzir ainda mais. Segundo ele, sem necessidade de desmatar ou prejudicar o ecossistema nativo.
"Os agricultores não são bem vistos. Além disso, muitas vezes levamos a culpa pela destruição da natureza. Mas os produtores sérios não desmatam. Ao contrário. Investimos muito em tecnologias e redes de apoio para evitar incêndios e queimadas, por exemplo", afirma Zezão.
Para o empresário, o Brasil conhece muito pouco do agronegócio. "Em plena pandemia, é o agro que está ajudando a economia do País e sustentou o mundo", diz. Segundo ele, é urgente que as novas gerações conheçam bem o setor.
“É possível triplicar a produção sem desmatar. Para isso, é preciso aumentar a produtividade. Entretanto, falta educar e estimular o agricultor. Sobretudo, o pequeno e o médio", diz.
Os primeiros passos
O senhor nasceu em Não Me Toque, no Rio Grande do Sul. Como veio parar no Nordeste?
Eu tinha 19 anos quando minha família resolveu comprar uma pequena fazenda. Meus pais me emanciparam e eu peguei o caminhão da família e fui para Goiás. Mas de lá, resolvi conhecer o Nordeste e acabei parando no Maranhão. A região era boa. Aqui compramos nossa primeira fazenda.
E como foi plantar soja em um lugar que não tinha esse foco? É verdade que o senhor morava no caminhão?
Passei o primeiro ano dormindo no Mercedes 1313 em que eu vim para o Maranhão. Era uma terra pequena e montamos apenas um barracão coberto de telhas. Esse espaço servia de refeitório, oficina e depósito de sementes.
Nos primeiros dois anos, plantei soja e arroz. Mas não havia comprador de soja produzida no Nordeste. E, para não perder a colheita, eu vendia em Goiás. Mas o frete não compensava. Por isso, de 1986 a 1990 eu só plantei arroz.
Então o que o fez apostar na soja?
Eu sabia que a soja tinha potencial. Só tinha de mostrar isso para todo mundo. Assim, em 1991 eu abandonei o arroz e voltei para a soja. Daí em diante, me dediquei à soja, ao milho, minha safrinha, e ao sorgo. Aliás, essa planta é rica em nutrientes. Ou seja, ela ajuda a preparar a terra para a produção dos grãos.
Potencial da agricultura no Nordeste
Mostrar a colheita recorde é uma forma de divulgar o potencial da agricultura no Nordeste?
Exatamente. Há muitas regiões no Nordeste onde dá para explorar a pequena e a média atividade do agronegócio. Mas existe uma carência de agricultores. O Brasil não faz novos agricultores. Temos de mudar essa cultura. As cidades estão cheias. Há espaço no campo para trabalhar, gerar emprego e renda.
Nós alimentamos o mundo. Mas o agricultor tem sido demonizado nos últimos anos. Criou-se o estereotipo de que o agricultor não preserva o meio ambiente. Isso não é verdade.
Meio ambiente
Com é possível equilibrar a alta na demanda por produtos agrícolas com a preservação do meio ambiente?
O Brasil pode triplicar a área plantada sem desmatar. A pecuária está saindo do confinamento e liberando áreas aptas para a agricultura. Nesse sentido, a expansão não é maior porque falta estímulos ao agricultor. Sobretudo para o de pequeno e médio porte.
Foi-se o tempo em que era preciso estar perto de um rio ou vencer um relevo acidentado para ter um negócio no campo. Hoje o agricultor faz poço. Não precisamos desmatar a Amazônia para sermos o celeiro do mundo. O agronegócio pode ser feito longe das áreas de preservação ambiental.
Para grandes grupos e agricultores, como o senhor, é mais fácil desenvolver o agronegócio responsável...
No entanto, os grandes agricultores são os mais malvistos. Ainda assim, são os que mais preservam. Ou seja, são as grandes empresas que têm estruturas de combate a incêndios florestais, por exemplo.
Todas as fazendas têm equipes treinadas. Somos contra as queimadas. Elas podem prejudicar a nossa produtividade se atingirem as palhas de milho, por exemplo.
Risa tem frota própria
O transporte é parte importante do seu negócio. Por isso o senhor também virou um operador logístico?
No agronegócio existem muitas intempéries. Por exemplo: nesse momento estamos enfrentando excesso de chuva. Imagine o quanto eu perderia se a frota fosse terceirizada? Ou seja, o caminhão iria ficar parado porque não podemos colher com essa chuva. E eu estaria pagando.
Tudo bem que eu poderia contratar pelo período da estiagem. Mas ficaria na dependência da disponibilidade do contratado. Ter frota própria garante mais autonomia. Quando parar de chover, meu caminhão estará disponível. Logo, podemos fazer a colheita a qualquer momento.
Gargalo principal são os portos
O que o governo precisa fazer para desenvolver o agronegócio?
O governo tinha de cuidar do acesso logístico. O agronegócio está tão desenvolvido que a iniciativa privada faz o resto. Geração de energia e desenvolvimento de tecnologias para facilitar a vida no campo o produtor já está fazendo, por exemplo. Ou seja, cabe ao governo desenvolver estradas, ferrovias e melhorar os portos.
Quais são os principais gargalos?
Acima de tudo, não podemos exportar soja e milho ao mesmo tempo. Não existe nenhum porto no Brasil onde isso é possível. Não temos terminais suficientes para armazenar os dois produtos ao mesmo tempo.
Primeiro temos de encerrar o ciclo da soja para só então dar início ao do milho. Porque os armazéns usados para guardar soja e milho são os mesmos. Logo, seria preciso dobrar a capacidade de armazenamento dos portos do Brasil.
De que forma isso impacta a operação?
Nossa janela para vender commodities é curta. Sou obrigado a vender a soja para embarcar de fevereiro a agosto. E o milho, de setembro a janeiro. Assim se a capacidade portuária fosse maior, daria para embarcar os dois grãos o ano inteiro.
Entretanto, atualmente não consigo atender quem quer comprar milho o ano inteiro. Ou seja, perdemos competitividade. Afinal, nos outros meses esses clientes compram dos Estados Unidos, por exemplo.
Logística do grão
Isso faz com que o Brasil seja menos competitivo nas exportações de grãos...
Sem dúvida. E falta de infraestrutura atrapalha sobretudo no Centro-Oeste, Norte e parte do Nordeste. Por exemplo: nos Estados Unidos as rodovias são três vezes maiores, em quilômetros, do que no Brasil. Ou seja, foram feitas para o transporte por caminhões, não só para carros. Tampouco no Brasil não há uma malha grande de ferrovias e hidrovias. Assim, trata-se de um custo que temos de absorver.
Caminhão topo de linha vs. estrada ruim
Atualmente, na frota da Risa há praticamente só Mercedes-Benz Actros 2651. O que levou à escolha do modelo?
A robustez e o baixo consumo de combustível. Além disso, nessa nova geração o caminhão ficou mais bonito, tecnológico e seguro. Tem tudo a ver com o que estou buscando. E a versão com motor de 510 cv é a que melhor atende a minha operação. Assim também, a negociação feita com a Mercedes-Benz fez diferença.
O senhor comprou uma unidade do novo Actros e vai viajar nele para mostrar a situação das estradas. Ele têm até câmeras no lugar dos espelhos convencionais. Não é um contrassenso rodar com um caminhão tão moderno em estradas esburacadas e mal sinalizadas?
Exatamente. Saindo daqui do Piauí em direção ao porto de São Luís, as estradas são cheias de buracos e quebra-molas. Além disso, a sinalização é muito ruim. Ou seja, há um grande desrespeito com o transportador brasileiro. E é isso que eu quero mostrar.
A jornalista viajou ao Piauí a convite da Mercedes-Benz