Mercado

Ônibus: Caminho da Escola e fretamento puxarão vendas em 2021

O setor de ônibus amargou resultados negativos em 2020. Por causa da pandemia, a queda nas vendas deverá ser de cerca de 33%.

Aline Feltrin

30 de dez, 2020 · 10 minutos de leitura.

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ônibus
Venda de ônibus em crescimento
Crédito:Foto: VWCO

O setor de ônibus amargou resultados negativos em 2020. Por causa da pandemia, a queda nas vendas deverá ser de cerca de 33%. Isso em relação às vendas de 2019. Ou seja, 14 mil unidades no total. Se não fossem as encomendas do Programa Caminho da Escola e de empresas de fretamento, o tombo seria ainda maior.

Segundo profissionais do setor ouvidos pelo Estradão, 2021 deverá ser um pouco melhor. E, assim como em 2020, o Programa Caminho da Escola e o fretamento deverão puxar a demanda.

Uma nova licitação do programa vem aí. Enfim, deve sair em janeiro. E vai demandar 7 mil ônibus. A informação é do vice-presidente da Associação Nacional das Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), Marcos Saltini.


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“Com isso, podemos arriscar prever um cenário um pouco mais positivo”, afirma o executivo. Segundo ele, o programa é um sucesso. Seu lançamento ocorreu em 2007. Desde então, garantiu a venda de cerca de 40 mil ônibus.

“Em 2021, as prefeituras vão precisar renovar a frota. Ainda que não haja aulas presenciais nos primeiros meses”, afirma Saltini.


Ônibus para fretamento continuará aquecido

Saltini também está otimista com relação à demanda do setor de fretamento. “Vimos neste ano as empresas investindo em ônibus de fretamento." Isso porque as medidas de distanciamento social fizeram com que cada veículo passasse a levar apenas metade dos passageiros que comporta.

Esse cenário deverá permanecer ao longo do primeiro semestre de 2021. "Ao menos até que haja vacinação em massa", afirma o vice-presidente da Anfavea.

Diretor de Vendas e Marketing de ônibus da Mercedes-Benz, Walter Barbosa projeta crescimento de 10% para o setor em 2021. E também acredita que os dois segmentos vão se destacar mais uma vez.


“O fretamento absorvia 800 unidades por ano. Mas em 2020 o volume saltou para 1.400”, diz Barbosa. Segundo ele, esse segmento deve continuar em alta sobretudo no primeiro semestre de 2021.

Segundo o executivo, levará tempo até que todos sejam imunizados. “Mesmo após a vacinação, haverá oportunidade de crescimento nas vendas", afirma. Barbosa se refere à demanda vinda de setores como o agronegócio e a mineração.


Retomada do mercado externo

Diretor do Sindicato Interestadual da Indústria de Materiais e Equipamentos Ferroviários e Rodoviários (SIMEFRE), Ruben Bisi aposta em uma retomada da atividade econômica. Segundo ele, isso ocorrerá após o inicio da vacinação em massa.

Bisi concorda que o setor de fretamento deve continuar aquecido. Ele também aposta no Programa Caminho da Escola como importante canal de vendas de ônibus em 2021.

“O mercado interno de ônibus poderá crescer em torno de 10% em 2021. O setor de turismo deve ser reativado quando a vacina chegar. E isso deverá aumentar a demanda por ônibus”, diz Bisi.


De acordo com ele, a expectativa é de que o Chile volte a comprar. E que a situação econômica da Argentina melhore. “Estamos prevendo um crescimento maior até na exportação."

Segundo ele, o aumento ficará em torno de 15%. "Isso embora os mercados que são mais tradicionais estejam enfrentando o mesmo tipo de problema”, pondera Bisi.

Falta de insumos causa alta nos preços

A falta de matéria prima e componentes vem prejudicando a produção de ônibus. Esse problema surgiu no quarto trimestre de 2020 e deverá se estender pelos primeiros meses de 2021.


Em entrevista ao Estradão em outubro, Bisi alertou que as encarroçadoras de ônibus enfrentavam alta nos preços de insumos. O aço, por exemplo, um dos produtos mais importantes na cadeia de produção de carrocerias, ficou até 65% mais caro.

Da mesma forma, os preços do alumínio e de espumas disparam. Em outras palavras, tiveram alta de até 40%. Isso é resultado da desvalorização do real ante o dólar. Com a maioria dos insumos é cotada na moeda norte-americana, os preços dispararam.

Bisi diz que o problema está se acentuando. E também atinge produtos como alumínio, cobre, ABS, resinas e plásticos em geral. “A falta de produtos chegou a causar a parada de algumas linhas de produção."


De acordo com ele, a situação do setor de ônibus é grave. "Os clientes estão com baixa capacidade de investimento e tendo de suportar aumento de preços.”

Paradas pontuais na produção

Do mesmo modo, o problema afeta as fábricas de chassi. Saltini diz que as fábricas tiveram de fazer interrupções pontuais ao longo de 2020. O motivo foi a falta de materiais.

Segundo ele, há grande chance de isso voltar acontecer. Saltini diz que os estoques estão muito baixos. “Mesmo com a volta da produção, houve perda da produtividade. E isso fez com que o estoque fosse vendido”, diz.


Saltini acredita que a alta nos preços dos insumos vai continuar nos primeiros meses de 2021. “Não há previsão de melhora. Com isso, é impossível não reajustar o preço do produto final.”

Setor de ônibus urbanos é mais prejudicado

As previsões para o segmento de urbanos não são nada otimistas. Sobretudo porque o governo federal vetou uma ajuda emergencial de R$ 4 bilhões. Esses recursos seriam destinados aos sistemas de transportes em cidades com mais de 200 mil habitantes.

Dessa forma, o auxilio iria ajudar as empresas a ganhar fôlego para pagar dívidas. Em outras palavras, isso abriria caminho para novas compras de ônibus. “Esperamos que o governo reveja a situação, pois poderemos ter um apagão nos sistemas de transporte urbano”, diz Bisi.


Seguindo Satlini, esse segmento está sofrendo muito com a péssima saúde financeira. Como resultado, as consequências serão graves em 2021. “As empresas não faturaram, mas tiveram de manter a frota.  Bem como custear a manutenção e pagar os colaboradores.”

Os segmentos de urbanos e rodoviários são os pilares do setor de ônibus. Além disso, foram os que mais sofreram com a pandemia.


Segundo Barbosa, há sinais de recuperação. Mas isso ocorre de forma muito aquém do desejado. Como resultado, o faturamento das empresas de transporte urbano caiu 50%. Igualmente em queda, o de rodoviários perdeu entre 35 e 40% em relação a antes da pandemia.

Mais dificuldades pela frente

Para o executivo da Mercedes-Benz, o cenário deve se manter por mais alguns meses. A previsão é de 2021 seja um ano com queda menor do que a registrada em 2021. Na prática, isso já é um ganho.

Dessa forma, só esses dois segmentos vão demorar para retomar as vendas. A opinião é do diretor de Estratégia e Transformação da Digital da Marcopolo, João Paulo Pohl Ledur. “As pessoas só se sentirão seguras para voltar ao transporte quando tiverem a certeza de que não vão se contaminar com a covid-19”, diz.


De acordo com ele, não há como prever o que acontecerá em 2021. De maneira idêntica tanto no mercado interno quanto no exterior.

“São muitas variáveis ainda sem definição, com oportunidades e obstáculos", afirma. "Precisaremos manter o foco na reconstrução, por intermédio da inovação, tecnologia e transformação digital.”

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