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Quarto eixo em caminhão é realidade no Brasil, mesmo proibido

Transportadores e engenheiros avaliam o implemento com o quarto eixo há anos. E relatam que ele evoluiu e é seguro. Agora, o setor espera pela homologação

Andrea Ramos

15 de dez, 2020 · 11 minutos de leitura.

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quarto eixo
Crédito:Divulgação/Estadão
Quarto eixo é realidade no mercado, só falta homologar

O Ministério Público de São Paulo denunciou 20 pessoas acusadas de promover a instalação do quarto eixo em implementos rodoviários. Cinco estão presas. A prática não é regulamentada pelo Departamento Nacional de Trânsito (Denatran). E foi alvo de reportagem exibida pelo programa Fantástico, da TV Globo, no domingo (6).

A reportagem mostrou como algumas empresas fazem as alterações. Os veículos que rodam com esse tipo de alteração no implemento estão ilegais. Mesmo que tenham documentos expedidos pelos Detrans dos Estados. O documento não tem validade porque a adaptação não é regulamentada.

Divergências entre os órgãos de trânsito

Por causa da interpretação das normas, alguns Detrans entenderam que os veículos poderiam rodar. A autorização se baseia no resultado de testes feitos por transportadores. Como os resultados foram positivos, órgãos estaduais de trânsito acabaram permitindo a regularização desses implementos.


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"A maioria das transportadoras instala o quarto eixo de forma responsável. E por isso, quem está rodando com esses equipamentos conseguiu emplacá-los no Detran", diz o engenheiro e assessor técnico da NTC&Logística, Lauro Valdívia.

"Essa divergência de interpretação criada pelos departamentos de trânsito contribui para a ação de empresas irregulares", explica Valdívia. Estima-se que pelo menos 6,4 mil implementos trafeguem pelo País equipados com o quarto eixo.

Quarto eixo requer homologação

Se houver a liberação da alteração pelo Denatran, as fabricantes de implementos passarão a produzir a composição. E os transportadores poderão comprar o implemento com quatro eixos direto da fábrica.


Isso também vai mexer com o segmento de segunda mão. Porque o pequeno frotista e o motorista autônomo poderão instalar o equipamento em empresas credenciadas.

Especialistas do setor de transportes dizem que o quarto eixo é rentável. É que o item homologado será mais seguro e melhorará a produtividade se comparado aos modelos adaptados.


Quarto eixo é parcialmente regular

Valdívia afirma que há estudos sendo feitos a pelo menos cinco anos. E que esses ensaios têm como objetivo validar a segurança do veículo equipado com o quarto eixo.

O assessor técnico explica que é comum o transportador desenvolver configurações para tornar a atividade mais rentável. No entanto, cabe ao Denatran, por meio da portaria 63, liberar as configurações que podem circular pelo Brasil.

"Depois de anos de avaliações com o quarto eixo, o implemento evoluiu. Transportadores contrataram engenheiros e especialistas em segurança viária para  validarem o equipamento. Como esses veículos não apresentaram riscos, passaram nas vistorias técnicas. Os Detrans começaram a liberar o quarto eixo com bases nessas avaliações", diz o especialista da NTC.


Carretas autorizadas rodam com o quarto eixo

Gerente jurídico do G10 Transportes, de Maringá (PR), Marcos Scioli diz que os veículos com o quarto eixo utilizados pelas empresas do grupo receberam certificação prévia. Portanto, antes de fazer qualquer alteração no implemento, o G10 solicitou a requisição para alteração.

As mudanças só foram feitas após a empresa receber a liberação do Detran. "Fizemos tudo dentro da lei. Solicitamos o requerimento do Detran para depois comprar e instalar o quarto eixo em oficinas credenciadas. E depois de tudo isso é que houve a certificação do implemento pelo Inmetro e a Instituição Técnica Licenciada (ITL), credenciada ao Denatran", conta Scioli.

Ele afirma que a ITL tem a função de verificar se a instalação do quarto eixo está em conformidade com a regulação do Inmetro e do Departamento de Segurança Veicular. O laudo de segurança emitido pelos órgãos de trânsito possibilitou a liberação do Certificado de Registro de Licenciamento do Veículo (CRLV). E dessa forma, foi possível emplacar o implemento.


"Muitos motoristas e empresários que utilizam essa composição fizeram todo esse processo para receber a liberação. Eu diria que é uma minoria que obteve a liberação do quarto eixo de forma irregular", diz o gerente jurídico do G10.

Quarto eixo versus bitrem

As razões de o quarto eixo chamar a atenção dos transportadores e caminhoneiros são inúmeras. Com o sistema o caminhão pode transportar 58,5 toneladas de peso bruto total combinado (PBTC).


E, se comparado ao bitrem, cujo PBTC é de 57 t, há outros ganhos. O primeiro é a capacidade de carga adicional de 1,5 t. No entanto, esta é a menor das vantagens.

A maior delas é com relação à redução do custo com equipamento. Enquanto o bitrem é composto por duas combinações, o quarto eixo é apenas uma. Contudo, o seu valor de aquisição é menor.

Para tracionar o bitrem, a legislação determina que o cavalo mecânico tenha tração 6x4. A composição com o quarto eixo pode ser tracionada por caminhões 6x2.


Quarto eixo facilita manoboras

A maior facilidade para manobrar também é um argumento a favor do componente. Especialmente para o motorista. O bitrem é mais difícil de manobrar por ser mais longo. E, dependendo do espaço, não é possível nem fazer manobras.

No entanto, quando comparado a vanderleia, a vantagem dos implementos de três eixos espaçados é com relação à dirigibilidade. Motoristas relatam que o quarto eixo é mais seguro. Não trepida nas curvas ou nas manobras. E isso ocorre porque o componente é direcional.

Vale ressaltar que este mesmo eixo é equipado com lonas de freios e sistema ABS. Portanto, a sua capacidade de frenagem é exatamente a mesma dos demais eixos convencionais da carreta, e capaz de tracionar sua capacidade de carga.


Porém, a maior vantagem do quarto eixo é com relação ao consumo de diesel. A economia de combustível em testes do G10 chegou a 8,5% se comparado ao bitrem.

G10 cria tendências

Não é de hoje que as transportadoras do G10 são responsáveis por criar tendências no setor de transporte. O grupo de empresas de transporte é o principal percussor das novidades. E também dos testes de rodagem e de segurança promovidos com o equipamento nos últimos anos.

Desde 2016, o G10 investe no quarto eixo. Sem revelar a quantidade de equipamentos com quarto eixo na frota, todas as cinco empresas do grupo têm pelo menos um modelo.


Em 2015, a Scania apresentou um cavalo mecânico com tração 8x2. O novo modelo é fruto justamente de uma parceria com o G10.

A novidade tem capacidade para 54,5 t de PBTC e 37 t de carga líquida. O caminhão 8x2 tem dois eixos direcionais e roda com carreta de três eixos. O implemento está posicionado entre a composição vanderleia e o bitrem.

G10 cria tendências

No entanto, essa composição começou a ser avaliada pelo G10 em 2010. Mas, graças à parceria com a engenharia da Scania e especialistas em segurança viária, o veículo virou realidade.


Uma série de avaliações com o cavalo mecânico 8x2 permitiu comprovar sua eficácia. E assim receber a homologação do Denatran.

É isso que o G10 espera que ocorra com o quarto eixo. Os testes de eficiência de frenagem, velocidade e capacidade de vencer rampa, bem com o de coeficiente de atrito, estão aprovados.

Agora, a fidelidade desses testes tem de ser reconhecida pelo Denatran. A expectativa é de que isso ocorra até fevereiro do ano que vem.


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