Mercado

VP da Scania aposta na retomada do mercado brasileiro

Vice-presidente de operações comercias da Scania diz que o Brasil já passou por muitas crises, se saiu bem de todas e está reagindo rapidamente ao novo coronavírus

Andrea Ramos

11 de abr, 2020 · 14 minutos de leitura.

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Para Roberto Barral, da Scania, o Brasil vai se recuperar dos impactos causados pelo covid-19
Crédito:Scania/Divulgação
Para Roberto Barral, da Scania, o Brasil vai se recuperar dos impactos causados pelo covid-19

Vice-presidente de operações comercias da Scania, Roberto Barral é um otimista. Mesmo com o avanço do novo coronavírus, que paralisou a fábrica da empresa em São Bernardo do Campo (SP), em março, o executivo diz que acredita muito no Brasil.

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Segundo Barral, a Scania preparou uma série de novidade para o País neste ano. Mas os projetos tiveram de ser postergados por causa da pandemia. De acordo com ele, os projetos devem começar a sair do papel no próximo dia 27 de abril. É quando a empresa deve retomar as atividades.


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Em entrevista ao Estradão, Barral conta que os caminhões a gás são uma das apostas. A produção deveria estar a todo vapor. Mas no dia 23 de março a Scania deu férias coletivas a todos os operários. Antes, portanto, da determinação de quarentena pelo governo do Estado de São Paulo.

As entregas das primeiras unidades ocorrerão logo após o reinício da produção. Sobre o combate à covid-19, Barral diz que o País agiu rápido. “Isso deve refletir positivamente na retomada da normalidade", afirma. "Devemos nos recuperar dos prejuízos causados pela quarentena ainda neste ano.”


Um dos motivos para tanto otimismo é o crescimento da oferta de serviços conectados. Isso tem ajudado a manter os caminhões das transportadoras em operação no período de isolamento social. “Nunca vivenciamos esse tipo de situação. Estamos aprendendo uma nova forma de comunicação por meio da digitalização e da conectividade”, diz.

Segundo ele, a Scania mantém contato diário com clientes para entender como pode ajudar a reduzir o impacto nos negócios. Os 150 pontos físicos de atendimento no País estão funcionando. O objetivo é garantir peças e serviços de manutenção aos caminhões que estão em operação.


Barral conversou com o Estradão por telefone. Assim como sua equipe, ele está trabalhando de casa. Confira a entrevista abaixo:



Fábrica no Brasil e a Scania no mundo

Antecipar a paralisação da produção teve como objetivo garantir o estoque de peças durante a quarentena?

Uma série de fatores nos levou a isso. No primeiro momento pensamos em manter o abastecimento de peças. A Scania é uma empresa global. Mandamos componentes para a Europa e recebemos de fornecedores de lá. Mas a pandemia foi se agravando. O governo estadual a quarentena em São Paulo e isso começou a implicar no processo.


Coronavírus e os impactos

A NTC&Logística fez um levantamento que aponta queda de 39% da atividade de transporte no Brasil. Como isso pode atingir a operação da marca?
A gente está vivendo uma situação única, que causará impactos sociais e econômicos. Mas não observamos queda brusca na operação. Nosso faturamento de vendas de peças em março teve queda de 7%. Alguns Estados estão em quarentena e outros não. Há segmentos que mantêm nível praticamente normal de atividades, como é o caso do transporte de grãos. É óbvio que ninguém sairá imune. A indústria e o comércio fecharam e isso diminui o movimento e o fluxo de mercadorias transportadas.

Qual será o impacto da quarentena nos negócios da Scania?
Todas as nossas fábricas no mundo foram fechadas. E isso nos afetou de imediato, porque ao parar a fábrica há interrupção do faturamento diário. Tudo depende de quanto tempo essa situação irá durar. É prematuro prever, mas não há duvida de que haverá consequências. Alguns países sofrerão mais, outros menos. O Brasil reagiu rapidamente, com a adoção de quarentena, fechamento de fábricas e do comércio. E isso será positivo no futuro. Há países europeus que demoraram a reagir e que devem sofrer mais. Acredito que poderemos sair da crise e recuperar as perdas rapidamente.

Scania a gás

As primeiras unidades dos caminhões a gás serão entregues neste semestre, como previsto, ou isso pode mudar por causa da paralisação da fábrica?
A produção dos caminhões a gás já havia começado. E a previsão era de iniciar as entregas em abril. Mas, com o fechamento da fábrica, parte da montagem foi interrompida. Se a quarentena não se estender muito temos condições de recuperar o tempo perdido. E manter as entregas para as semanas seguintes à volta da produção. Isso se a cadeia de suprimentos acompanhar. Na volta, vamos aumentar um pouco a produção diária, para recuperar o tempo que a fábrica permaneceu paralisada.


Retomada da economia

A economia começava a dar sinais positivos no País. E os empresários voltaram a comprar caminhões. Qual será o impacto da pandemia nos resultados deste ano?Diante do atual cenário é possível a recuperar as perdas. Desde que o período de crise não se alongue muito. A gente vive em um país que eventualmente passa por crises. Viemos de uma recentemente. E de repente, em três meses, a economia começou a responder positivamente. O Brasil tem grande flexibilidade, potencial e uma energia que poucos mercados do mundo têm.

Para Roberto Barral, o Brasil agiu rápido com relação à pandemia, e isso poderá ser positivo para a recuperação da economia

Serviços conectados e a rede Scania

O que a Scania está fazendo para manter contato com os frotistas?
Nunca vivenciamos esse tipo de situação. Estamos aprendendo uma nova forma de comunicação por meio da digitalização e da conectividade. A atividade da rede de concessionárias é fundamental. É nossa obrigação garantir a operação dos caminhões, ônibus e motores de geração de energia nesse momento. A equipe de vendas mantém o contato diário com os clientes. Não se trata de venda. Queremos saber o que nossos clientes precisam e de que forma podemos ajudar para reduzir o impacto da crise nos negócios. Se ele precisa de uma peça ou serviço, temos de atender prontamente. Estamos com os 150 pontos físicos de antedimento no País funcionando 100%. Estamos agendando o horário de atendimento para evitar aglomeração. O cliente deixa o caminhão, que é higienizado no recebimento, e depois de feito o serviço há uma nova higienização antes da entrega. Todas as nossas ações têm como foco garantir a segurança e a saúde tanto dos clientes quanto dos nossos colaboradores.


De que forma o serviço conectado da Scania contribui nesse momento?
Os veículos conectados (há 31 mil no País, entre caminhão e ônibus) estão rodando uma média razoável de quilômetros. Sobretudo porque alguns segmentos não tiveram suas atividades totalmente interrompidas. Não houve queda brusca. Mas a retração aconteceu. Com os sistemas de conectividade podemos oferecer um programa de manutenção cobrado por quilômetro rodado. Especialmente no caso do plano flexível. O cliente só paga pelo que rodar. É um grande diferencial da Scania.

Peças e produção

Um grande desafio é manter a oferta de peças de reposição. Como a Scania está resolvendo essa questão?
Nosso centro distribuição de peças fica em Vinhedo, no interior de São Paulo. Lá ficam os componentes que são distribuídas para a rede. Até o momento, temos 97% das peças disponíveis. Isso é um fator muito importante, porque permite manter os serviços de manutenção em dia. Mas é preciso ressaltar que estamos vivendo um dia de cada vez. E amanhã o cenário pode mudar. Mas hoje posso afirmar sem dúvida que conseguimos atender nossos clientes de forma adequada.

Scania vai focar nos semipesados

Para este ano era esperado um aumento na renovação da frota de semipesados. O que a Scania fará para atender esses clientes?
É importante separar a nossa presença no segmento semipesados. Tínhamos uma boa participação no mercado de 8x2, mas houve uma mudança na classificação de modelos e esses veículos passaram ser considerados pesados. No ano passado, vendemos mais de mil caminhões 8x2 no Brasil. Sobre novos produtos, a Scania tem o modelo com motor de 7 litros mais leve. Ele oferece boa performance e a mesma qualidade dos demais veículos da marca. Lógico que essa nova reclassificação do 8x2 prejudica um pouco nosso resultado em termos de market share. Mas a nossa estratégia como um todo é focada no custo total de operação (TCO). Não vendemos preço, mas temos planos para a compra de semipesados, por meio de CDC e Finame. Oferecemos opções para cada tipo de cliente. Agora vamos focar nos modelos 4x2 e 6x2 com potências mais baixas. Temos bons produtos para competir nesse segmento. Lógico que o mercado vai se retrair nesse momento. Nossas estratégias serão retomadas assim que tudo voltar à normalidade.


Qual é o perfil do cliente de caminhões semipesados?
Temos dois perfis de clientes na categoria. Há o grande frotista, que atua com nossos produtos em todos os segmentos. Esse relacionamento facilita a entrada da Scania nessas empresas. Eles conhecem o produto e o valor de revenda. E há os menores, que compram de uma a dez unidades. Esse cliente será nosso foco. É com ele que queremos fazer um bom trabalho de aproximação. E eles são maioria no segmento de semipesados. Por isso, são clientes importantes para o avanço de nossas operações.

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