Gestão

JSL pode fazer novas aquisições e não descarta Correios

CEO da JSL, Fernando Simões falou, em entrevista exclusiva ao Estradão, sobre a reestruturação da companhia, a compra da Fadel e da Transmoreno, novas oportunidades de negócios e as tendências do setor de transportes

Andrea Ramos

23 de nov, 2020 · 15 minutos de leitura.

Publicidade

CEO da JSL, Fernando Simões, diz que empresa pode fazer mais aquisições
Crédito:JSL/Divulgação
CEO da JSL, Fernando Simões, diz que empresa pode fazer mais aquisições

JSL foi às compras este ano, e o terceiro trimestre foi intenso para o grupo brasileiro. A empresa com sede em Mogi das Cruzes (SP) adquiriu 100% da Transmoreno e 75% das ações da Fadel. Além disso, fez novas ofertas públicas de seus papeis na bolsa de valores (B3), o chamado IPO. Com isso, captou R$ 694 milhões com a oferta de ações primárias.

Outra mudança importante é que, desde agosto, a JSL deixou de ser controladora para ser uma das empresas sob o guarda-chuva da Simpar. A nova companhia é resultado de uma reorganização  implementada pelos acionistas. Com isso, a subsidiária ganhou agilidade para atuar em sua atividade principal, que é o serviço de transporte e logística.

LEIA TAMBÉM: Presidente da ZF na América do Sul diz que caminhões e ônibus elétricos estão perto de se tornarem reais


Publicidade

O resultado é que a maior empresa de transporte e logística do País cresceu ainda mais. O lucro líquido no período foi de R$ 25,4 milhões. A alta foi de 12,4% ante o terceiro trimestre de 2019. E a receita, de R$ 733,2 milhões, representa crescimento de 26,1% em relação ao resultado no segundo trimestre.

CEO da JSL, Fernando Simões concedeu entrevista exclusiva ao Estradão. Ele falou sobre o novo momento da empresa, que está voltando às origens. Revelou planos e disse que a companhia está aberta a novos investimentos. E não descartou a possibilidade de participar do processo de privatização dos Correios.

No terceiro trimestre de 2020, a JSL passou por uma reorganização societária. O que isso muda na prática?
Dentro do segmento de logística, fomos criando unidades de negócios conforme a necessidade dos clientes. Essas unidades cresceram e, nos últimos cinco anos, separamos as empresas por área de atuação. Foi o caso da Vamos e da Movida, por exemplo. Este último movimento é a conclusão desse planejamento. A JSL fazia o papel de companhia de logística e de holding. Porque controlava as demais empresas do grupo. Neste trimestre nasceu a Simpar, que passa a fazer o papel da holding. E, como consequência, a JSL voltou a focar exclusivamente sua vocação, que é a logística.


O lucro líquido da JSL cresceu 12,4% no terceiro trimestre de 2020 ante igual período de 2019. Já é um reflexo da reorganização?
A JSL já era a maior companhia de logística do País. E já tinha o maior portfólio de serviços logísticos. Com isso, voltou a focar exclusivamente o seu desenvolvimento. No momento em que passamos a ter uma companhia só de logística, fizemos duas M&As (fusões e aquisições). Na sequência, fizemos o IPO da companhia. Os desafios pelos quais o Brasil e o mundo passam nos levaram a implementar algumas modificações internas. E esses movimentos começam a proporcionar ganhos. Se não fossem essas reestruturações, isso não estaria ocorrendo.

Novas aquisições

Então a aquisição das transportadoras Fadel e Transmoreno faz parte da nova estratégia...
A Transmoreno é uma empresa bem administrada no segmento de veículos zero-km. Trata-se de um segmento com grande potencial. Além disso, é uma companhia sem muitos ativos. E trabalha bastante com terceiros e está em linha com nosso planejamento. Já a Fadel atua com clientes extremamente exigentes com relação à prestação de serviço e tem preços muito competitivos. As duas vão contribuir muito para as sinergias da nossa operação.

Trabalhar com terceiros é uma tendência na JSL?
Entre 50% e 60% do nosso volume de negócios é feito por terceiros. São caminhoneiros autônomos e pequenas empresas que trabalham como subcontratadas. Não temos um modelo definido. A Fadel atuava com frota própria. Uma das nossas estratégias é atuar em todos os setores, sem depender de uma área ou cliente específico. Essa diversificação permite que tenhamos capacidade de reagir em qualquer cenário. Inclusive em meio à crises econômicas ou à pandemia, por exemplo.


Planos da JSL

Há planos de novas aquisições?
É importante ressaltar que não somos uma empresa que vai sair fazendo qualquer aquisição. Só vamos comprar o que considerarmos justo. Isso inclui ativos e qualidade. Faz parte do nosso planejamento fazer outras aquisições, sim.

Há algum segmento em que a JSL ainda não atua, mas está de olho?
Há muitas oportunidades no segmento de transporte de carga líquida e produtos químicos.

A JSL vai participar do possível processo de privatização dos Correios?
A JSL, como a maior empresa do segmento de logística rodoviário, tem obrigação de estar atenta e de olho nas oportunidades. Então, com certeza vamos avaliar. Mas não sei qual é o modelo, o formato e como isso vai ocorrer. A única coisa que posso afirmar é que vamos, sim, avaliar essa oportunidade.


Mercado atual e retomada

Já está havendo uma retomada do mercado? Dá para falar sobre voltar a níveis pré-pandemia? Os resultados do terceiro trimestre evidenciam que está havendo uma retomada. E isso vem ocorrendo inclusive em segmentos que estavam em baixa. É o caso, por exemplo, da indústria de autopeças e automobilística. Eu diria que os segmentos de alimentos, higiene e limpeza já estão acima do que estavam antes da pandemia. E, com toda certeza, há outros em recuperação.

Trajetória

Quais foram as principais lições aprendidas ao longo do processo que transformou a transportadora Júlio Simões em uma holding de capital aberto?
Nossa empresa tem 64 anos. Meu pai foi mecânico, vendedor de roupas, juntamente com a minha mãe, caminhoneiro... Quero dizer que nossa origem é marcada por muito trabalho e dedicação. E em meio a um mercado extremamente competitivo, em que há muita informalidade. Para o cliente, isso torna o preço mais baixo. Muitos acabam considerando apenas o preço, sem levar em conta aspectos como segurança e qualidade, por exemplo. O segmento de transporte é um dos mais difíceis para atuar. Até porque é preciso negociar o melhor preço. E isso passa pela logística. Penso que tudo isso formou o nosso DNA. Além disso, nossa equipe é o principal fator que nos diferencia no setor.


Qual conselho o senhor daria ao transportador que sonha grande?
Nossa meta é oferecer cada vez mais serviços aos clientes. E mostrar o quanto somos eficientes. Queremos entregar um serviço que fidelize pela qualidade. Entregar o que o cliente precisa. Ter uma equipe diferenciada, que sabe que sempre dá para melhorar, mesmo que muito já tenha sido feito, faz toda a diferença.

O que é preciso para entender o que o cliente quer?
É preciso ter gente na equipe que queira e esteja disposta a ouvir e entender o cliente.

O setor de transporte e logística

Quais tendências devem se consolidar no setor de transporte e logística nas próximas décadas?
Creio que a tendência no Brasil é haver grandes fusões, seja orgânica ou por meio de aquisições. O segmento ainda é extremamente pulverizado e fragmentado. As dez maiores empresas de logística do País têm menos de 2% de participação de mercado. A JSL, que é a maior, detém apenas 0,7%. Nos Estados Unidos, por exemplo, as dez maiores empresas de logística detêm 32%. E a maior delas responde por 7% do volume de serviços de logística. Isso mostra o potencial de crescimento no mercado brasileiro. Outra tendência é o aumento da profissionalização. Cada vez mais os clientes vão  contratar companhias que tenham governança, responsabilidade tributária e social. Isso vai contribuir muito para a melhorar e profissionalizar o setor.


Atenção ao caminhoneiro

Que mensagem o senhor daria ao caminhoneiro?
Como empresário, tenho a obrigação de contribuir para melhorar a vida do caminhoneiro. Isso é uma responsabilidade empresarial e social. E não podemos medir esforços. Não se trata de contribuir só com quem presta serviços para nossa empresa. Nossa responsabilidade é com o setor. Porque isso contribui com toda a indústria de logística no País.

Quais as ações que a JSL faz nesse sentido?
A gente tem muito a crescer. E, ao trazer o caminhoneiro para prestar serviços para nossa empresa, estamos contribuindo para que ele também cresça. Aqui a gente incentiva a troca do caminhão. Com isso, ajudamos a renovar a frota. Enquanto a idade média da frota no País é de 19 anos, o caminhão mais antigo dos nossos agregados tem 14 anos. A idade média é de sete anos.

Renovação de frota

Para o autônomo, a renovação da frota é algo distante. O que pode ser feito?
Na JSL, ajudamos esses motoristas a reduzir custos e poupar. Indicamos locais onde o abastecimento é mais barato. Também sugerimos onde pagar menos por outros insumos, como pneus, por exemplo. Oferecemos a carreta por meio de comodato. Assim, ele só precisa renovar o cavalo-mecânico. Além disso, buscamos oferecer rota de ida e volta, de modo a garantir maior produtividade. Procuramos olhar para as necessidades desses motoristas. Nesse novo ciclo iniciado pela JSL, queremos melhorar ainda mais nossa atenção aos caminhoneiros.


Como cidadão, o que o senhor acredita que o País pode fazer para melhorar a vida do caminhoneiro?
Alguns governos tentaram implantar programas de incentivo para facilitar a compra de novos caminhões por autônomos. Mas nenhum contribuiu, de fato, para a renovação da frota. O programa deveria incluir também o pequeno empresário. Nos países que investiram na renovação de frota, os caminhões com mais de 20 anos podiam ser dados como parte de pagamento de novos. Os velhos foram desmontados e vendidos como sucata. Não há como renovar a frota sem sucatear os veículos velhos. Deveria haver um modelo que não inclua subsidio governamental. Poderia haver, por exemplo, uma taxa para o caminhão zero a fim de ajudar a financiar o programa. Espero ainda poder ver ações substanciais voltadas ao pequeno empresário e ao caminhoneiro autônomo.

Deixe sua opinião