Mulher no volante, sucesso constante
Conheça a história de Kelly D`Angela Valério, uma das muitas caminhoneiras que rodam pelas estradas brasileiras.
Tudo começou com uma piada: aos 19 anos, Kelly disse a uma amiga da mãe, que trabalhava numa transportadora, que queria virar caminhoneira para conhecer o Brasil. A amiga riu, mas levou a sério: “Passa lá na empresa que eles estão contratando mulheres”. Kelly também não estava para brincadeira. Mesmo sem ter a carteira de habilitação para dirigir veículos pesados, a menina foi, fez um teste e foi reprovada.
Disseram para ela voltar dali a 20 dias, dessa vez com a CNH regularizada, para uma nova prova. “Convenci minha mãe a ir comigo na autoescola. Fiz as aulas, passei nos exames, peguei minha carteira categoria C e voltei lá na empresa. Fiz o teste novamente, passei e fiquei”, relembra.
Ainda era pouco para a garota, que sonhava com caminhões maiores. Kelly pegava escondido as carretas da empresa para manobrar no pátio. Foi uma forma de treinar para a prova que lhe daria o certificado da classe E. Com 21 anos, tirou a licença e teve de esperar dois anos até arrumar um emprego que lhe permitisse dirigir carreta. “Ninguém deixava porque eu era muito nova, tinha cara de bebê”, brinca.
No novo trabalho, ela conheceu Glauco Mouray Messias, colega de estrada, que seria seu companheiro de vida. Aos 26 anos, Kelly pediu as contas e começou a viajar no caminhão de Glauco. Quando ele estava cansado, ela assumia o volante e vice-versa. Assim, as viagens rendiam mais. Não demorou muito para a parceria dar frutos. Em 2008, nasceu Gabrielly, filha do casal.
Kelly dirigiu até o nono mês de gravidez, mas, depois do parto, passou dois anos e meio longe das estradas. Hoje, aos 35 anos, continua na ativa. Quando brincou que seria caminhoneira, não imaginava que cruzaria as estradas de Minas Gerais, Ceará, Maranhão. Sergipe, Tocantins, Goiás e todo o Sul do Brasil. Sempre pensou que seguiria o caminho da mãe e tocaria o salão de beleza da família, em Osasco (SP), onde nasceu. No entanto, ao entrar na boleia e pegar a pista pela primeira vez, apaixonou-se.
Em todos esses anos, Kelly, assim como muitas de suas colegas, teve de lidar com o preconceito e a falta de estrutura para mulheres na profissão. A qualidade dos banheiros e da comida em algumas paradas é um problema recorrente: “Aguentei muita piada besta, mas hoje o pessoal respeita mais”, diz. Kelly não está sozinha. Assim como em outras profissões, cada vez mais mulheres estão assumindo o volante dos caminhões. Uma pesquisa feita pelo Denatran do Paraná, em 2015, mostra que, nos cinco anos anteriores, a participação de mulheres na categoria havia aumentado em 30%.
Kelly pensa em parar um dia para passar mais tempo ao lado da filha e da mãe. Ficar longe de Gabrielly é a parte mais dura do trabalho. Mas ela ainda tem muito chão pela frente. Kelly é uma das escolhidas do projeto Ed Estrada/De Carona com Você, da Shell, que percorre as rodovias brasileiras mapeando as condições das estradas com uma tecnologia inovadora.